Volume 2 Capítulo 13: Eu Fui Dar o Relatório de Progresso

O quarto não tinha janelas e tinha um tom azul. A mobília era uniforme, marrom-escuro polido, dando-lhe uma atmosfera um tanto austera. Seiichirou foi convidado a se sentar em uma cadeira de couro em frente a uma mesa de aparência antiga. Ele se sentou lá depois de dizer seus agradecimentos.

 

“Já faz um tempo, Seiichirou.”

 

A pessoa sentada à sua frente era o primeiro-ministro do país, Kamil Calvader.

Com o cabelo loiro rosado penteado para trás, o belo homem de idade avançada reclinou-se contra o encosto. Ele estreitou seus olhos cinza-azulados que pareciam astutos e mostravam profunda inteligência ao mesmo tempo.

O primeiro-ministro Kamil estava muito ocupado, então Seiichirou não o via desde o dia em que ele e Aresh receberam suas ordens, mesmo tendo sido transferido por ordem de Kamil. Seiichirou tinha um caminhão cheio de relatórios e perguntas para ele. No entanto, dada a agenda lotada de Kamil e o fato de que ele queria ter certeza de obter as informações mais detalhadas, ele teve que ser flexível.

 

“Estou feliz em ver que você está indo bem, primeiro-ministro Calvader.”

“Fu, não precisa ser tão formal. Você e eu somos amigos, afinal.”

 

Apesar de ter mudado sua atmosfera intelectual, Kamil ainda exalava um ar de maturidade e falava com um tom sugestivo. Kamil e Seiichirou eram tão próximos quanto alguém em uma posição muito alta de outro departamento e um gerente de nível médio poderia ser. O relacionamento deles não era nada pessoal. Dito de outra forma, eles foram mais cúmplices na abolição da convocação da Santa, bem como em seu trabalho atual.

 

“Obrigado. Agora, então, posso começar com o meu relatório?”

 

Kamil assentiu com satisfação com a tentativa de Seiichirou de descartar toda conversa fiada e insistiu para que ele continuasse.

 

“Primeiro, em relação aos fundos da igreja, gostaria de pedir desculpas por não poder fornecer números concretos, pois ainda não tenho toda a história.”

“Ah, tudo bem. O bispo e o contador da igreja estão fora agora, não estão?”

“Sim. Por alguma razão, eles fizeram uma viagem de negócios exatamente ao mesmo tempo, embora tenha sido anunciado com antecedência que um funcionário do palácio real viria para uma inspeção.”

“Foi combinado para eles voltarem depois de amanhã. Mas bem, não foi tão ruim para você, correto?”

“Na verdade, foi muito fácil para mim reunir informações.”

 

Originalmente, a inspeção teria sido conduzida com a orientação do gerente de contabilidade, mas desde que Seiichirou foi informado de que ele estava fora da cidade, ele não teve escolha a não ser procurar por conta própria.

 

“Isso é bom o suficiente por agora. Eu quero ouvir sua opinião.”

“Estou relutante em dizer isso porque não consegui apresentar nenhum dado… mas suspeito que haja uma discrepância entre o número e a classificação dos nobres que visitaram a capela e suas doações.”

“É peculato?”

“É difícil dizer, já que ainda não consegui compilar uma lista das despesas operacionais da igreja.”
Nota da Kuro: O crime de peculato tem como objetivo punir o funcionário público que, em razão do cargo, tem a posse de bem público, e se apropria ou desvia o bem, em benefício próprio ou de terceiro. Está descrito no artigo 312 do Código Penal, que prevê pena de prisão de 2 a 12 anos e multa.

 

Seiichirou pegou os nobres entre os fiéis que estavam esperando na capela e, com base nas informações de Norbert, estimou o valor da doação. Parecia-lhe que havia dinheiro mais do que suficiente para as despesas de administração da igreja.

 

“Hmm, você tem alguma ideia para onde o dinheiro está indo?

“Não… mas pelo menos o orfanato, os Sacerdotes Aprendizes e o Sacerdote não estão relacionados a isso.”

“Sacerdote. Oh, você quer dizer Sacerdote Siegwold?”

 

Kamil ergueu as sobrancelhas bem desenhadas.

 

“Você o conhece, senhor?”

“Sim, ele é famoso. Além de sua origem familiar, seu poder mágico e feições são notáveis. Por outro lado, sua devoção dificulta que a nobreza se aproxime dele.”

 

Como esperado, a família biológica de Siegwold parecia estar entre as mais altas do círculo aristocrático. Além disso, era evidente que a quantidade de poder mágico de alguém, apesar de sua aparência, estava em demanda mesmo dentro da nobreza. Nesse caso, o futuro dos órfãos da igreja estava se tornando cada vez mais intrigante.

 

“Ah, certo, não há magia no país de onde você veio. O poder mágico é uma valiosa fonte de energia, mas é difícil de manusear, mesmo com ferramentas mágicas incorporadas. Requer conhecimento e habilidade especializados. É por isso que as crianças que nascem com muita magia são treinados para reduzir sua quantidade de energia mágica na igreja.”

“Reduzir o poder mágico…?”

 

Quando Seiichirou ouviu sobre o quão perigosas as fontes de energia podem ser, ele imediatamente pensou em energia nuclear. Não tinha emissões de CO ₂ e podia fornecer de forma estável grandes quantidades de energia ao mesmo tempo que era extremamente perigoso. Toda coisa boa tem seus riscos.

Ele se perguntou se era possível reduzir a quantidade de poder mágico que originalmente possuía. Se Kamil estava respondendo com uma expressão tão séria, deve ser de conhecimento geral neste país.

 

“Falando nisso, como está sua tolerância à magia e mana?”

 

Não só Seiichirou não tinha energia mágica, mas também não tinha resistência a ela, então mesmo a menor magia faria com que o calor entrasse em erupção em seu corpo. Além disso, consumir muita mana enfraqueceu sua constituição.

 

“Felizmente, estou melhorando pouco a pouco.”

 

Tendo Aresh lançando feitiços fracos nele, e continuando a ter uma dieta contendo pequenas quantidades de mana, Seiichirou estava se tornando mais resistente. Sem bajulação pretendida.

 

“Isso é uma sorte. No entanto, parece que o outro, que tinha a reputação de ser tão difícil de lidar como o Sacerdote Siegwold, foi completamente refreado.”

 

A sobrancelha de Seiichirou se contraiu, e ele suspirou para Kamil, que estava tentando abafar sua risada.

 

“Você diz ‘rédeas’, como se ele fosse um cavalo…”

“Oh, não um cavalo, mais como uma besta silenciosa. Então você não é uma rédea, mas uma corrente.”

“Vossa Excelência…”

 

Os olhos de Kamil se estreitaram divertidos quando Seiichirou soltou uma voz estupefata, sem saber o que dizer. Mas Kamil de repente voltou a um olhar mais sério e o cortou.

 

“Eu não estou brincando. Quaisquer que sejam seus sentimentos, você se tornou uma ‘corrente’ para ele. Ao contrário da ‘corrente’ do Padre Siegwold, você é real, pode ser tocado e é vulnerável. como eu posso, mas você não pode ser muito cuidadoso.”

 

Até as pessoas ao seu redor estavam começando a notar a obsessão implacável de Aresh.

Aresh, que sempre foi indiferente e inacessível, apenas reagiu ao homem cansado e impotente que veio de outro mundo como um extra da Santa.

O próprio Seiichirou estava trabalhando diligentemente para construir uma base para si mesmo, mas não havia como negar que ele estava colocando muito esforço em seu trabalho e priorizando-o sobre seus interesses.

Uma das razões pelas quais Kamil o enviou à igreja foi para mostrar a ele que havia mais nele do que apenas Aresh.

 

“Eu aprecio sua consideração.”

“Bem, tome cuidado… Agora que discutimos isso, você estava dizendo que quer abrir uma escola particular para as pessoas comuns na igreja?”

“Não, nada tão grandioso.”

 

Ele queria ensinar leitura, escrita e matemática para aqueles que queriam, principalmente, órfãos na igreja. Isso foi tudo.

 

“Por um lado, melhorará a imagem da igreja, que por sua vez melhorará a imagem dos nobres que doarem para ela. Também atrairá mais visitantes à igreja e tornará mais fácil para os cidadãos se familiarizarem com ela”.

 

A partir daí, poderiam subsidiar as atividades das igrejas locais.

 

“Além disso, se eles souberem ler, escrever e calcular, poderão encontrar mais empregos, o que reduzirá o crime e, por sua vez, elevará o padrão de vida das pessoas comuns. Eu queria saber se poderíamos conseguir que o governo patrocinasse esses que são talentosos o suficiente para ir para a escola.”

 

Kamil colocou sua bochecha em sua mão que estava descansando no braço enquanto Seiichirou continuava.

 

“Você se destaca no que faz, mas você realmente quer se envolver na educação?”

“Eu não tenho intenção de sair tão longe do meu caminho. A idéia veio da Sagrada Santa em primeiro lugar. Estou apenas complementando-a.”

“A Santa, hein… Provavelmente, ela teve a ideia depois de ver as crianças no orfanato. De vez em quando, há crianças de famílias nobres que também são assim.”

 

Kamil estava certo. Não faltaram apelos à reforma das instituições educacionais e do sistema de status. A razão pela qual isso não foi implementado foi que isso custaria dinheiro.

 

“Estou atualmente trabalhando nos cálculos preliminares de seus efeitos econômicos. Vou apresentá-lo em breve, então, por favor, aguarde.”

“Ah, lá vai você com sua área de especialização, hein? …Deixe-me perguntar uma coisa.”

“Sim?”

 

Kamil se inclinou para frente, seus olhos azul-acinzentados estavam fixos firmemente em Seiichirou.

 

“Seiichirou, o que você quer fazer com este país?”

 

O que ele queria fazer com este país que o sequestrou junto com uma garota menor de idade que eles reverenciavam como uma Santa?

O que ele queria fazer com este país que o havia abandonado, onde nem o próprio ar lhe agradava?

‘O que Yua diria aqui?’ Seiichirou se perguntou. Ela provavelmente diria algo como: “Quero fazer deste país um lugar onde todos sejam iguais” ou “Quero torná-lo um lugar onde todos não morram de fome ou sofram de miasma”.

Seiichirou abriu a boca.

 

“Nada.”

 

Mas não havia nada que Seiichirou quisesse. Realmente, ele não queria nada. Ele não queria tornar este país melhor nem fazer todo mundo feliz. Ele não se lembrava de ter almejado aspirações tão elevadas. Ele estava apenas tentando fazer seu trabalho bem.

 

“O Departamento de Magia está seriamente com falta de pessoal, atrasando assim nossos planos para combater o miasma e completar o retorno da magia. No entanto, não é um trabalho que qualquer um pode fazer, então eu quero recrutar pessoas de todos os lugares.”

 

Mesmo que as pessoas comuns pudessem trabalhar para o Palácio Real, era impossível para os analfabetos. Até aquele East foi para a escola.

 

“Ha… você realmente é…”

 

Kamil recostou-se novamente e soltou uma risada seca. Seu tom e expressão eram um pouco mais infantis do que qualquer coisa que Seiichirou tivesse visto antes dele.

 

“Seria uma grande perda para o país ignorar pessoas tão talentosas. Se o governo apoiasse 100 plebeus para irem para escolas de verdade das particulares, as despesas seriam pagas se pelo menos um deles se juntasse ao departamento de magia e produzir bons resultados. Seria uma pena se o governo não aproveitasse um projeto tão econômico.”

 

As próprias pessoas eram um tipo de recurso. Talvez essa mentalidade tenha vindo da natureza escrava corporativa arraigada de Seiichirou.

 

“Você está certo. Um país não pode existir sem seu povo; seria uma perda se eles não fossem utilizados adequadamente.”

 

Kamil parecia ter o mau hábito de rir por entre os dentes.

De qualquer forma, Seiichirou estava feliz que o primeiro-ministro, que era a mais alta autoridade em assuntos de pessoal, parecia estar a bordo. Kamil olhou para ele novamente com um sorriso no rosto enquanto Seiichirou secretamente se sentia aliviado.

 

“Ah, é uma pena. É uma pena, Seichirou.”

“Algo está errado?”

 

Quando Kamil disse que era uma pena, Seiichirou entrou em pânico, se perguntando se havia uma falha no plano que eles tinham acabado de discutir, mas parecia que não era o caso.

Kamil olhou para Seiichirou com um olhar que ele nunca tinha visto antes.

 

“Não é isso. Realmente… se não fosse por aquela fera das trevas, eu teria sido o único apreciá-lo muito.”

 

Seiichirou de alguma forma conseguiu engolir sua saliva com o “desejo” dirigido a ele por seu chefe e soltou uma risada seca dizendo: “Agradeço sua preocupação”.

 

 

—–FIM do Volume 2 Capítulo 13: Eu Fui Dar o Relatório de Progresso—–

Nota da Kuro: A baixo o link para o Discord do grupo de tradução de Japonês para Inglês, que eu optei por manter caso alguém queira.

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