Bloody Moon - Capítulo um, parte dois





“Olhe só para isso, está vazio. Até parece que eu estou procurando por um filhote de formiga”
Estas foram as palavras do Príncipe Leshak.
“Sim, sua majestade”
Metade dos doze cavaleiros guardiões, estes que diziam ser tão bons quando o príncipe herdeiro, desapareceram em um labirinto de becos, acompanhados de soldados. A expressão no rosto do príncipe, que os via partir, era nada menos que feroz. Havia algum tipo de fúria impiedosa em sua feição. O mesmo era frequentemente criticado por ser excessivamente rígido.
Aquela, havia sido uma noite de buscas. Já que, o conde Custer secretamente planejava invadir o distrito da luz vermelha. O príncipe herdeiro, enfurecido, pessoalmente liderou os cavaleiros guardiões e partiu em busca do conde.
Esta, foi a razão dele ter se deparado com aquelas ruas vermelhas. Todos sabem que é estritamente proibido que qualquer membro do exército, e até mesmo ele, visitem ou frequentem bordéis.
“Humm, sua alteza, você não vai cortar a garganta do conde Custer aqui, vai?”
Perguntou o chefe dos cavaleiros Abbad. O príncipe, porém, não lhe respondeu de imediato.
“…..De jeito nenhum. Eu vou puni-lo de acordo com o regime militar”
“Ha, sim. Bem, você costuma ser muito rígido quanto a isso. Sorte a dele”
Rigor era uma das palavras usadas para se referir a aparência do príncipe herdeiro. O mesmo também era conhecido por ter características faciais tão perfeitas, que muitos julgavam ter sido Deus quem pessoalmente o esculpiu. Era como se o criador, na hora em que o criou, estivesse segurando uma régua divina e calculando as suas proporções áureas¹ uma a uma. Dizem que é por conta disso que Deus é considerado rigoroso.
Até mesmo a incomum combinação de cabelos lisos prateados e olhos pretos pareciam ser perfeitos quando fundidos com as feições de Leshak. Do tamanho da cabeça à largura dos ombros, do grau de arredondamento das unhas ao comprimento dos músculos de suas pernas, não havia outra palavra para descrever o príncipe além de, perfeição. Infelizmente, no entanto, o seu caráter consegue ser muito mais rigoroso do que as suas feições. Abbad sorriu levemente.
De certa forma, isso era um tanto quanto preocupante. Já que o príncipe herdeiro, Leshak, nunca colocou e nunca colocará as suas preferências pessoais ante a justiça. Essa é uma das razões pela qual o seu enorme império perdurou durante longo sete anos, mesmo estando em guerra.
“De qualquer forma, o conde Custer deve estar preso dentro de um desses bordéis se divertindo. E, mesmo que tenha planejado tudo isso sem a sua permissão, ele terá que voltar para casa assim que seus deveres estiverem concluídos”
Fazia poucos dias que o conde Custer havia se juntado ao resto do exército. Abbad pensou que a invasão não autorizada não passava de nada mais do que uma leve noite para o conde. Se o príncipe herdeiro não estivesse pessoalmente liderando os cavaleiros guardiões, a excursão do conde provavelmente não teria causado muita comoção. Este, que provavelmente ficaria surpreso ao ver que o príncipe havia saído em sua busca.
Ou seja, não teria sido necessariamente uma coisa boa, mas também não seria lá muito ruim. Quando não se prestava muita atenção na reputação moral de seus soldados, a adesão do conde Custer teria algum tipo de benefício para o poderio militar.
No entanto, a fúria do príncipe herdeiro era um pouco diferente da que Abbad havia estimado.
“Exatamente. É por isso que quero encontrá-lo antes que algo aconteça”
“…..hum, certo”
“E também, porque sinto pena da prostituta que tem que lidar com aquele corpo enorme”
“Até parece. Ou você está falando daquilo?”
Abbad, sorriu ladino e cruzou as mãos sobre o peito fingindo rezar. Era claro que o mesmo era um descrente, principalmente pelo posicionamento de suas mãos.
“Oh meu deus. Como você pode colocar um ser humano tão rígido como nosso superior? Por favor, tenha piedade do conde Custer”
“Ele já foi misericordioso o suficiente”
O Príncipe Leshak torceu os lábios.
“A libido não é o problema aqui, não é como se eu não fosse permitir que ele mantivesse uma amante e a trouxesse para morar no quartel”
“Espere, você acabou de dizer amante? Certamente, esse é um tipo não convencional de tratamento, principalmente vindo de você, príncipe Leshak. Então, você está assim por causa da invasão?”
“A invasão é apenas parte do problema. O que me deixa mais irritado é ter chegado a um lugar como esse” Leshak apontou para o labirinto de ruas vermelhas a sua frente, havia aspereza em seu olhar. “Há sete anos, este era um distrito que comercializava trigo e têxteis, mas agora, olhe só o que esta cidade se tornou”
Esta, era uma das faces da guerra. Não a vitoriosa e grandiosa, mas, a outra. Aqueles que haviam perdido seus familiares, ou tiveram os seus pertences saqueados, haviam sido arrastados para aquela vala, fazendo o que fosse necessário para sobreviver. Além disso, aqueles que criaram a vala, eram os únicos que tiravam algum proveito do acontecido. Leshak tinha ódio daquelas ruas.
Depois de perceber a expressão de desagrado do Príncipe herdeiro, Abbad mudou de feição e perguntou seriamente.
“Se me permite, eu posso voltar sozinho depois e limpar esta rua para que a mesma nunca mais seja vista por Vossa Majestade”
“Limpar a rua não adiantará de nada, eles irão se mudar para outro lugar”
Para se livrar destas ruas e valas, a guerra tinha que acabar.
“Não haverá mais nenhum tipo de tolerância quanto ao conde Custer. Eu irei puni-lo de acordo com o regime militar onde quer que eu o encontre”
“Como quiser”
Abbad inclinou a cabeça em uma reverência.
Pode parecer que o Príncipe herdeiro é muito rigoroso quanto a incompetência e intemperança dos outros mas, Leshak era muito mais duro consigo mesmo do que era com qualquer um de seus subordinados. Por conta disso, Abbad sentiu-se o cavaleiro mais sortudo do continente. O Príncipe Leshak era um homem justo, do tipo que daria até a última gota de sangue por uma causa caso fosse necessário.
“Parece que vamos levar mais tempo do que o imaginado para encontrá-lo” disse o Príncipe herdeiro, que seguia ao longe os seus subordinados.
“Sim. O terreno da cidade é muito mais complexo do que imaginávamos. Devemos tentar outra rota?”
“É o que eu estava prestes a dizer”
“Então, eu assumirei a liderança. Vamos por aqui”
O príncipe e Abbad começaram a se movimentar pelas ruas avermelhadas.
Suas vestimentas eram muito mais leves do que as usadas em batalha. Os sons dos passos de seus homens se tornaram cada vez mais baixos à medida que ambos se afastaram, suas mãos segurando fortemente as armas em suas cinturas. Os dois cavaleiros do Império se infiltraram nas sombras avermelhadas dos bordéis. Eles haviam dado apenas alguns passos mais à frente quando de repente cruzaram a esquina e….
“…….”
Bam!
Quase esbarraram com alguém que estava parado em um dos pontos cegos do muro de pedra que estavam patrulhando.
“Meu Deus”
Leshak rapidamente o segurou.
“Você está bem?”
“Ah……….”
O alguém que quase esbarrou em Leshak era um homem magro.
A princípio, o Príncipe herdeiro acreditou que a pessoa fosse uma mulher por conta da finura de seus pulsos, mas, assim que verificou a pessoa e viu que era um homem franziu a testa. O mesmo tinha um pano grosso e preto ao redor de seus olhos. O que significava que era cego.
“O so, som……dos seus pés…..eu não ouvi…..e….”
A voz do garoto era baixa, e a sua pronúncia arrastada.
“Ah, eu achei que não……que não havia ninguém aqui…..eu não sabia”
Os seus ombros tremiam, como se ele estivesse muito confuso e envergonhado. O olhar de Leshak sobre o cego, que mal vestia um manto, foi gradualmente descendo até chegar ao chão.
Sangue escorria do mesmo.
As lacerações longas, finas, e estranhamente curvas, evocaram todo tipo de cena e situação desagradável que a sua mente poderia imaginar. Surpreendentemente, havia apenas uma coisa que poderia criar tais feridas.
Um chicote.
“Desde quando um cego anda sem uma bengala? Não há ninguém para guiá-lo?” perguntou Leshak.
“Eu já estou acostumado com isso então, tudo bem…..”
O garoto era cego, provavelmente estava nu por debaixo do manto, além disso, claramente havia sido açoitado e pelo que parece conhecia bem a área das ruas vermelhadas. A sua identidade era óbvia. O mesmo trabalhava nos bordéis. Ou seja, ele é um prostituto! Então, ele provavelmente é mais uma das vítimas da guerra, sendo obrigado a viver nesse antro inescrupuloso.
Leshak, olhava para fixamente para o cego, sua expressão mudando de instante em instante. Abruptamente, ele se abaixou e abriu o manto do rapaz.
“Fique parado. Eu não pretendo fazer nada de ruim a você”
“Oh, nã……..!”
O cego estremeceu. Leshak segurou o mesmo com uma mão enquanto examinava as suas feridas com a outra. O modo com a pele havia sido grosseiramente rasgada era dolorosamente horrível de se olhar.
“Você tem algum remédio com você?”
Abbad balançou a cabeça.
“Não, meu senhor. Perdão”
“Então, não há outra maneira”
Leshak arrancou a manga de sua camisa. Abbad se encolhia como se fossem as suas roupas a serem rasgadas enquanto o príncipe cobria os ferimentos do cego com o tecido recém-rasgado.
“Quanto mais sangue você perder, mais perigoso será para você. Eu preciso aplicar um remédio. Por acaso não há um herbalista por perto?”
“Eu não sei. Isso já é o suficiente……..”
Abbad interveio com cuidado, achando o modo de agir do príncipe totalmente fora do comum.
“Vossa Majestade. O tempo de um prostituto é precioso. Se você o mantiver aqui por muito tempo, o cafetão virá procurá-lo”
O cego ergueu a cabeça, surpreso com o que acabara de ouvir. A sua expressão poderia ser comparada à de um pássaro quando ouve o som da flecha sendo disparada do arco. Seus ombros eram pequenos e sua pele muito pálida. Seus lábios eram lamentavelmente secos, do mesmo modo que uma fruta fica quando enrugada. As linhas de sangue perceptivelmente continuavam escorrendo de seu corpo.
Era difícil não sentir simpatia pelo pobre garoto.
Leshak levantou-se, posicionando suas mãos nos ombros do cego. O Príncipe, olhou para ele seriamente, mesmo que o outro não pudesse enxergar.
“Você quer ir embora daqui?” perguntou Leshak.
“……..O que?”
“Eu posso lhe dar outra vida se quiser. Você não vai mais precisar se preocupar com o cafetão ou o bordel. Você poderá viver como um cidadão do Império de Ibeden”
“Ah……!” o cego soltou um som incompreensível.
Leshak observava enquanto o garoto apertava os pulsos onde antes claramente ficavam algemas. Perguntar se o mesmo queria sair daquela situação foi uma pergunta estúpida, em primeiro lugar esse tipo de pergunta nem mesmo deveria ter sido feita. Assim que chegou a essa conclusão, Leshak agarrou o braço do cego.
“Me leve até o seu cafetão”
“Que……? O que…….?”
O cego abriu a boca em uma expressão surpresa. Abbad, silenciosamente, estalou a língua, ainda parado atrás de Leshak. Ajudar um prostituto em meio a guerra era algo que ele conseguia imaginar o Príncipe herdeiro fazendo mas, ele se perguntava se o mesmo não deveria parar com isso. Haviam muitas pessoas necessitadas por aí, ele nunca conseguiria usar todas elas, ainda mais se tentasse fazer isso individualmente. No entanto, o cego se desvencilhou da mão agarrada ao seu braço. Leshak, franzindo a testa, olhava incrédulo para a sua mão agora vazia.
“O que foi?”
Uma estranha tensão começou a crescer entre o cego e o Príncipe. Só depois de recuperar o fôlego é que o garoto cego o respondeu.
“Está tudo bem, tudo bem……..está tudo bem, meu senhor”
“O que você quer dizer com, está tudo bem?”
“Eu…..te, tenho uma família…….eu, eu não posso ir……te, tenho uma família”
O cego curvou-se, repentinamente fazendo uma reverência e tateou o chão com os pés.
O único problema, é que o seu rosto estava virado na direção errada, então o mesmo acabou reverenciando Abbad e não Leshak. Isto, porém, só fez com quem o Príncipe sentisse ainda mais simpatia pelo mesmo. Ele sentiu que, se deixasse o garoto ir embora naquele estado nunca iria se perdoar.
“Ha mas, muito obrigado pelas suas palavras. Eu, eu nunca irei esquecê-las……..”
O cego deu um passo para trás. Leshak proferiu bruscamente.
“Não vá embora. Eu não entendi o que acabou de dizer”
“Eu não me importo mais com o que acontece comigo…..hum…..”
“Bom, agora já é tarde demais. Eu vi o seu estado”
“Ah, não……..eu….eu não posso”
Fush!
O cego de repente, se pôs totalmente de pé e desapareceu, correndo para a esquina de onde havia vindo.
“Hum?” Abbad abriu os olhos como se não acreditasse no que viu.
“O que foi isso? Como ele consegue ser tão rápido?”
“Droga!”
Leshak virou a mesma esquina enquanto soltava palavrões. Mas, o garoto cego já havia desaparecido por entre as sombras avermelhadas. Tudo o que havia ali, eram os tons avermelhados da rua molhada, e nada mais.
“Eu acho que eu acabei de ter um sonho, vossa majestade, como alguém pode……..”
Abbad murmurou ainda desacreditado. Leshak rangeu os dentes. O cavaleiro, percebendo o modo como o seu Príncipe rengue os dentes, sugeriu.
“Nós estávamos procurando pelo conde Custer quando acidentalmente nos deparamos com o prostituto, certo? Não creio que há qualquer utilidade ir atrás dele no momento”
“………Eu suponho que esteja certo”
Bam!
Leshak bateu com força na inocente parede à sua frente. Abbad franziu a testa como se estivesse sentindo a dor que aquilo deveria causar. No entanto, Leshak não sentiu dor alguma, apenas conseguia pensar em como havia sido incompetente frente a situação que acabara de ocorrer.
“Vamos lá. Precisamos encontrar o conde Custer antes que ele assedie alguém”
“Você tem razão”
Ambos voltaram a patrulhar, no mesmo ritmo que antes havia sido interrompido. Três horas depois, o Príncipe e seus cavaleiros finalmente encontraram o conde Custer.
Infelizmente, a essas horas, o corpo do conde já estava endurecido e ele era só apenas mais um cadáver. Além disso, não havia nenhum tipo de marca em seu corpo que pudesse indicar a causa de sua morte, exceto, pelos dois buracos ensanguentados no lugar onde deveriam estar os seus olhos.
Continua…
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N/A:
1- Proporção áurea, número de ouro, número áureo, secção áurea, proporção de ouro é uma constante real algébrica irracional denotada pela letra grega phi, em homenagem ao escultor Phideas, que a teria utilizado para conceber o Parthenon, e com o valor arredondado a três casas decimais de 1,618.
Eu já tô apaixonada pelo Leshak e vocês??
Espero que tenham gostado do capítulo! Beijinhos e até mais!
‹ 뽀뽀 아리앨 🌈 ›
Publicado por:

- AriSnshine
-
Olá! Arizinha aqui ♡
Sou apenas uma grande fan de novels Bls (principalmente coreanas) que sonha em ser uma grande tradutora de livros um dia.
Espero que gostem das minhas traduções!
૮₍ ˶ᵔ ᵕ ᵔ˶ ₎ა
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