Ai No Kusabi - The Space Between - Capítulo 4
Midas. Área 3. Mistral Park era um grande complexo de centro de convenções com pavilhões de exposições de várias formas e tamanhos.
Começando com o “Casino Row”, a principal atração de Lhassa, e continuando em seus “estabelecimentos de entretenimento”, os visitantes encontraram com os extremos do Distrito do Prazer, o que poderia ser chamado (com uma interpretação um pouco diferente) a verdadeira face de Midas.
O dia do leilão se aproximava. Midas foi pega em uma febre que rapidamente excedeu sua agitação normal. As vozes animadas chegaram até mesmo à praça oval, que em dias normais era abafada durante o dia.
Como Kirie previra, os rumores do Leilão fluíram rápidos e densos, até os pubs e bares de Ceres que não poderiam ter menos a ver com isso. Talvez porque os produtos fabricados pela Academia estivessem novamente fazendo sua estreia após uma ausência de cinco anos.
Riki e seus amigos estavam a caminho da casa de Herma.
— O que você diz? Vamos, vamos —, implorou Kirie, subindo no colo de Sid. — De qualquer forma, assistir é de graça. É bom ficar à margem de vez em quando; nos divertir e se soltar para variar, você não acha? E se tivermos sorte, podemos ganhar algum dinheiro para cerveja.
Sid talvez achasse que ser escolhido por Kirie não era tão ruim assim, porque estava entrando no clima enquanto Kirie começava a puxar os lóbulos de suas orelhas.
Ele olhou para Riki, como se pedisse a permissão de seu ex-líder.
— Ei, Riki. O que você acha?
Mostrando pouco interesse no Leilão ou em ir a qualquer lugar, Riki respondeu secamente. “Se você quer ir, então vá.”
Sid reagiu com um pequeno encolher de ombros. Kirie franziu as sobrancelhas, um olhar mal-humorado em seu rosto.
— O que há com você? É como as pessoas dizem, você passa o dia todo chupando limão. De qualquer forma, o que mais você tem pra fazer com seu tempo livre? — Kirie discutiu, censurando a submissão dos membros da gangue, que até agora sempre deram prioridade às preferências de Riki. — Você realmente tem algum motivo para não querer ir?
Quando Riki se virou para ele, Kirie acrescentou, apertando os lábios e estreitando os olhos:
— Talvez haja alguém lá que você não queira ver?
— Tanto faz. — Riki disse, como se a coisa toda tivesse se tornado muito chata para se preocupar.
— Então está resolvido. Não é uma má ideia irmos juntos à cidade de vez em quando. — Kirie disse sarcasticamente, exibindo um sorriso complacente.
— Eu não ligo para esse idiota. — Riki resmungou com um olhar de soslaio, baixo demais para ser ouvido. Era porque, mesmo com apenas dezessete anos, a atitude estranhamente afetada de sabe-tudo de Kirie lhe incomodava profundamente? Ou talvez porque estivesse sendo tratado com tanta presunção por um garoto três anos mais novo? Não, também não era isso.
O que Riki não suportava nele não era o jeito que Kirie o fixava com aqueles olhos estranhamente incompatíveis, mas sim que por trás daqueles olhos ele via uma cópia do seu eu de três anos atrás.
Kirie não sabia que era um sapo preso no fundo de um poço*. Nem sequer entenderia a natureza desse monte de lixo em que despejava suas paixões excessivas. Ele mal arranhou a superfície das ilusões saindo do fundo de uma garrafa de cerveja forte enquanto ofegava por ar.
A princípio, nada disso ocorreu a Riki, que notou Kirie com exceção de seus olhos curiosamente incompatíveis, mas em algum momento ele começou a ver uma sombra de seu próprio eu imaturo quando era criança. Quando tinha a idade de Kirie, certamente ostentava o mesmo tipo de atitude. Volte cinco anos e não haveria como negar.
Uma vez que ele percebeu isso, as memórias surgiram do passado, entrelaçando-se em torno dele, condensando aqueles três anos em branco de uma só vez. Era insuportável ver esse reflexo de seu antigo eu que não tinha nenhuma razão lógica para existir. Inacreditável. E pensar que uma vez esteve no mesmo lugar dele. Eram sentimentos fortes que o fizeram involuntariamente cerrar os dentes de trás e engolir a bile amarga.
Ele voltou para seu próprio esconderijo, porque lá ele podia respirar fundo e relaxar sem os olhos de todos sobre ele. Ele poderia saciar sua garganta apertada e dolorida. Esticar seus membros rígidos. Fazer o que ele queria, quando ele queria. Saborear sua liberdade.
Foi estranho. Na época em que anunciou que estava deixando a Bison, a monotonia diária da vida cotidiana que ele não tinha nenhuma intenção de mudar o fez querer vomitar. Mas agora era insuportavelmente querida para ele.
Apesar do abandono que agora zombava das fraquezas que ele desejava curar, apesar da humilhação de ser exposto como um perdedor, Riki agora tinha um desejo mais persistente e exigente. No entanto, nada havia mudado. Com seu orgulho esgotado, seu corpo maduro agora apodrecendo no álcool, levaria muito tempo até que os sentidos desse Diamante entorpecido e desbotado voltassem por completo.
Ainda assim, o passado que ele nunca esperava abandonar parecia estar desaparecendo gradualmente enquanto ele submergia no pântano febril que era sua antiga casa, cercado por toda sua brutalidade.
Mas considerando as mudanças pelas quais ele passou, por que seus antigos companheiros lhe pareciam tão inalteráveis? Riki teve a sensação de que ele estava mostrando seu orgulho e arrogância e se arrependeu tarde demais.
Apenas as palavras de Kirie deixaram um gosto amargo em sua boca. Mastigá-los e forçá-los a descer inflamavam velhas feridas. Originalmente, ele dificilmente era do tipo que observava e esperava, mas aqueles três anos o ensinaram a ter paciência. Ou talvez fosse mais correto dizer que seu orgulho e teimosia haviam sido arrancados pela raiz, e a humildade enfiada em sua garganta.
Os insultos e desprezo das favelas eram pouco em comparação. Hoje em dia, derramar vergonha e ser humilhado não era nada. Esses pensamentos de forma alguma deixavam Riki voltar aos seus velhos hábitos.
E, no entanto, a presença de Kirie por si só atingiu o nervo que trouxe o passado ardente de volta à vida. Todas as lembranças de sua juventude ingênua e arrogante, de bancar o delinquente fodão, foram vividamente ressuscitadas diante de seus olhos. Seu coração não conhecia a paz. Seus olhos brilharam com raiva amarga e a máscara de indiferença fria estava propensa a cair.
Nove e meia da manhã, horário local de Midas, dia do Leilão. Como se a excitação tivesse transbordado da noite anterior, o Distrito do Prazer fervilhava de gente. O tempo estava maravilhoso. Céus azuis e nenhuma nuvem — clima perfeitamente apropriado para um carnaval.
E entre eles, Kirie estava aos calcanhares de Riki em alto estado de agitação.
— Ei, pare de arrastar os pés. Vamos nos apressar! — Guy observou Kirie enquanto caminhava com Riki em direção ao Parque Mistral.
— Kirie está cheio de si.
— Isso é porque ele ainda é uma criança.
— Uma criança, hein.
— O que esse sorrisinho quer dizer?
— Oh, nada. Apenas algo que eu lembrei.
— O que é?
— Também houve um leilão de animais de estimação fabricados pela Academia naquele ano em que viemos para a Colônia, e o lugar estava realmente fervilhando de gente. E era você quem gritava alegremente se impressionando com tudo.
Riki não disse nada em troca.
— É quem Kirie me lembra. Vocês dois são farinha do mesmo saco.
— Não me coloque na mesma categoria que aquele pirralho.
— Ah, entendi. Você está muito mais crescido. Falando nisso, você estava tão preocupado que eu me perdesse que você segurou minha mão e não soltou o tempo todo. Ei, ow!
— Cale a boca e continue andando.
— Por que você está me batendo? Tudo o que estou fazendo é relembrar os bons velhos tempos…
— Chega. Pare de falar.
— Tá bom, tá bom.
A abertura estava um pouco atrasada e a estrada que levava ao terreno do Leilão estava por toda parte congestionada com as ondas de pessoas. A multidão foi o suficiente para esgotar a paciência de Riki.
Com mais admiração do que sarcasmo em sua voz, Kirie olhou com os olhos arregalados.
— Olha todas essas pessoas! É um maldito desfile de pessoas! Que tal nós apressarmos! Está quente como uma sauna!
Luke bufou com escárnio.
— O que acontece é que eles são apenas um bando de ricos fodidos e excitados. Além do fato de que nós nos fodemos com cerveja preta, não há grande diferença entre nós e eles.
— É interessante, da mesma forma. Todos esses tipos diferentes de pessoas. Você não pode se deliciar com animais de estimação fabricados pela Academia com muita frequência. Eu me pergunto o que eles estão pensando, todo mundo se aglomerando nas vitrines assim.
Ele não estava fazendo essa pergunta a ninguém em particular. Mas o olhar de Kirie meio inconsciente procurou os olhos negros de Riki quando os tirou da multidão agitada.
— Então, Riki, o que você acha?
Riki normalmente teria se virado com indiferença e olhado para o outro lado, mas desta vez, estranhamente, ele fixou seu olhar no par de olhos incompatíveis de Kirie.
— No começo, o que todo mundo pensa: se eu tivesse que fazer isso todos os dias… Esse tipo de coisa. Então eu dou uma olhada nos lances iniciais e meus olhos se arregalam. Eles são um tapa frio na cara. Aqui estão aí pessoas comuns, as com todo o tempo e dinheiro do mundo e pessoas que não têm nada. Quando tudo estiver dito e feito, não importa se você não pode aceitar a distância entre você e as classes privilegiadas. Você é obrigado a lidar com isso e é isso que o deixa louco.
— Bem, o que você sabe? De vez em quando, o homem forte e calado abre a boca e tem algo radical a dizer. — Kirie olhou para Riki com uma expressão quase assustada e sorriu um sorriso curioso.
Guy e os outros olharam de lado para Kirie e especularam entre si, cada um de acordo com sua própria imaginação.
— Ei, ei, lá vão eles de novo.
— Sempre que eles se encontram, é assim que acaba. Por que eles não podem se dar bem?
— Idiota. A única coisa radical aqui é essa sua boca.
Mas eles se sentiam diferentes em seus corações: Kirie nunca aprende. Ele é um século jovem demais para me enfrentar.
Riki soltou um suspiro pesado.
— Não é grande coisa, não é?
— O quê? Ser alguns anos mais velho faz de você um velho sábio?
— Sim, porque você está sempre falando merda como o pirralho espertinho e imaturo que você é.
— Huh. Só três anos e você já é um homem superior entre os outros homens? Mesmo quando você desistiu tão fácil da liderança da Bison para se tornar um cara normal? É uma verdadeira decepção, estou lhe dizendo. Alguém deve ter se aproveitado de você. Pelo menos é o que parece para mim. — Antes que ele pudesse dizer outra palavra, Norris deu um tapa na cabeça de Kirie.
— O que foi isso?
— Isso é por ser um idiota. Nos dê a porra de um tempo, beleza?
— O que há de errado em dizer a verdade, hein?
Respondendo com a mesma arrogância em sua voz, Riki disse:
— Sim, suponho que você consegue falar merda desde que aprendeu a vestir as próprias calças, Kirie. Mas uma vez essa bela barreira de segurança que você tem desmoronar, o que você fala vai voltar direto para você.
Foi falado secamente, mas com um tom duro que deixou Kirie desgastado. O que Riki estava realmente dizendo irritou zombeteiramente em seus ouvidos. “Você tem uma boca grande demais para um pirralho que pega as sobras da Bison.”
Ele casualmente olhou para Sid e Norris e viu os sorrisos amargos e conhecedores brincando em seus rostos. O que estava claramente puxando os lábios de Luke não precisava ser dito. E Guy, que geralmente fazia algo para interromper, apenas suspirou levemente.
O que… o que é isso? Kirie pensou, em um lampejo espontâneo de raiva. Inesperadamente tomado pela ilusão de perder seu lugar no mundo, sua cabeça doía até o âmago.
— Só porque eu não tenho experiência! — Uma explosão de raiva queimando com uma sensação de perda se alastrou pelas suas entranhas.
— Nesse caso, cale sua boca barulhenta. Está doendo meus ouvidos.
Riki disse na sua casa, sem rodeios, desviando o olhar inflamado e agitado de Kirie. Apenas o espaço entre eles impedia que Riki e Kirie entrassem em uma briga. Havia um tipo completamente diferente de tensão no ar, um silêncio como o choque de cores não misturadas.
Kirie fixou o olhar em Riki e não moveu um músculo. Ou, para ser mais preciso, pode ser melhor dizer que o choque de encarar os olhos negros geralmente distraídos de Riki pela primeira vez o deixou incapaz de piscar. Suor frio lentamente encharcou suas costas. Sua garganta ficou irremediavelmente seca sob o peso de se sentir indescritivelmente oprimido.
— Vamos, Riki. Vamos. — Tentando separar a briga, Guy passou o braço em volta dos ombros de Riki. Aquele toque foi o suficiente para o brilho gelado desaparecer dos olhos de Riki.
Finalmente liberado do feitiço de Riki, uma grande sensação de alívio brotou no peito de Kirie. Sem realmente pensar nisso, ele umedeceu os lábios com a língua várias vezes.
— Ei, pare com isso. Nós estamos indo.
Todas as articulações de seu corpo ainda estavam tão anormalmente rígidas que, quando Sid lhe deu um golpe forte nas costas, ele cambaleou para frente.
— Que se foda isso, mas é um milhão de anos muito cedo para um amador como você brigar com Riki.
— Bem, sim. Mas pelo menos ele não molhou as calças.
— Pois é! Mas só porque eles não fizeram contato visual.
— Você deve a Guy uma nota de agradecimento.
E então eles deram a ele uma repreensão. Os instintos competitivos de Kirie se acenderam novamente.
— O que eu tenho que agradecer a Guy? — A rápida recuperação de Kirie foi excelente.
— Se você tem que perguntar, então é porque você ainda é uma criança.
Eles o pararam mais uma vez. Kirie estava ficando completamente chateado.
— Parem de me chamar de criança! Três anos de diferença não faz de vocês um bando de velhotes cansados do mundo!
Em todos os aspectos, o termo “precoce” se aplicava a Bison. Bastou o líder da quadrilha jogar a toalha e os demais optaram pela aposentadoria precoce. Ou melhor, pode-se dizer que, sem se arrependeram nem um pouco, eles se cansaram completamente.
Por quê? Por que eles ainda estavam juntos? Com sua razão de existência, sua fundação, tendo desaparecido?
“Merda!” insultou baixinho, olhando para as costas de Guy e Riki, caminhando lado a lado com ele. “Porra, espere para ver! Dê-me uma chance e eu vou-”
A boa sorte não cairia em seu colo se ele estivesse apenas sentado, e ele sabia, por viver nas favelas, que a oportunidade também não se apresentaria. Ele tinha ouvido rumores de que Riki havia deixado a Bison para resolver um assunto em que tinha se metido. Na época Riki tinha quinze ou dezesseis anos. O que quer que Riki pudesse fazer, Kirie tinha certeza de que ele poderia fazer também.
No entanto, Kirie franziu as sobrancelhas. Ele realmente não entendia a conexão entre Riki e Guy. O relacionamento deles obviamente não era comum. Era do conhecimento geral que eles estavam fisicamente envolvidos desde que estavam no Guardian, e que mesmo enquanto eles estavam lá, o apego de Riki a Guy nunca foi algo para ser levado de ânimo leve.
É por isso que quando Kirie conheceu Guy — graças a Sid — e descobriu que o tenente da lendária Bison era um cara normal e descontraído, ele sentiu como se alguém estivesse puxando sua perna. O que diabos é isso? Ele é apenas um cara comum! Não se parece com nenhum super-homem para mim! Tudo o que tenho a fazer é derrubar esse número dois de seu poleiro e…
A lacuna entre o boato e a realidade provou ser irritante para Kirie, mas quando Riki voltou para as favelas, Kirie aprendeu pela primeira vez porque Guy era seu tenente. Mesmo que não fosse explicado em tantas palavras, os dois se comunicavam claramente em um nível profundo. Goste ou não, ele teve que lidar com a realidade do verdadeiro significado do termo “parceiro”, e a manifestação de sentimentos de ciúme que eram difíceis de expressar.
Na Área 9, crianças até a idade de doze anos eram todas criadas juntas pelos administradores de cuidados infantis do orfanato Guardian. A razão dada foi que a taxa de mortalidade de crianças no ambiente violento e disfuncional das favelas era desproporcionalmente alta.
Isso fazia parte, mas na raiz do problema estava a taxa de natalidade extremamente baixa das meninas em comparação com a dos meninos. Isso pode ter sido devido a uma propriedade particular do planeta conhecida como Amoi, juntamente com vários outros fatores desconhecidos.
Apenas em Midas – em Ceres – não havia controles populacionais ou eugenia* em vigor. A “seleção natural do sexo” havia sido declarada um “direito básico”, como que para gravar em pedra os gritos de guerra da dignidade humana levantados na época de sua independência.
Consequentemente, o pequeno número de meninas recebia tratamento preferencial sobre os meninos, e aquelas com alguma inclinação para ter filhos podiam fazê-lo em um ambiente isolado e muito mais agradável. Ao contrário dos meninos que eram forçados a ser “independentes” do Guardian aos treze anos, desde que fossem capazes de dar à luz, as meninas não tinham obrigação de viver nas favelas infestadas.
Naturalmente, como as coisas aconteceram, aproximadamente noventa e nove por cento dos moradores das favelas — mesmo que limitados apenas às crianças no útero — eram do sexo masculino, o único sexo capaz de nascer.
Consequências, não haviam “famílias” com relação de sangue entre as relações homossexuais que formavam a base da vida nas favelas. E não havia nenhum conceito de “casamento” oficial ou cerimonial.
A Área 9 – Ceres – produziu esse tipo de sociedade distorcida e fechada. Mais uma razão para os cidadãos de Midas viverem voluntariamente como animais de estimação dentro da gaiola gigante que era o Distrito do Prazer, enquanto ao mesmo tempo desprezavam Ceres como “as favelas”.
Mas o homem é um animal social e é levado a buscar uma presença que alivie e sacie a solidão da vida. Sim nasceram os “casais”, alguns “companheiros inseparáveis” que existiam além do amor e do afeto, além dos contratos ou obrigações, e eram incondicionais “amigos com benefícios”. Embora esta fosse uma escolha “para a vida toda”, era preferível um parceiro compatível e sexualmente disponível.
“Quem é a pessoa certa para mim?”
Não eram poucos os que tais considerações jamais poderiam superar o alto obstáculo de seu próprio idealismo.
Quando Kirie decidiu entrar para a Bison a convite de Sid, o real motivo foi que, embora a Bison agora fosse mais uma lenda do que realidade, o nome conquistava um respeito considerável nas favelas simplesmente como um símbolo de status. Na verdade, eles podiam pedir tantos favores que poderiam sobreviver apenas com presentes, se quisessem.
Por causa disso, embora Kirie e Bison tenham se cruzado muitas vezes, nem uma vez mexeram com ele para pegar seu dinheiro. Nessas ocasiões, Guy parecia um atirador certeiro. Quando Kirie os contatou, foi rejeitado e mandado embora com um tapa nos pulsos.
Entre os membros, ele era o único que Kirie não conseguia conquistar, e isso feria seu orgulho. “Qual é o problema? Tu é brocha?” Tentando de alguma forma irritar Guy, Kirie até desafiou sua masculinidade.
Mas Guy o respondeu cortando-o.
— Boa tentativa. Mas eu não curto criancinhas que acabaram de sair das fraldas. — Kirie nunca tinha esquecido aquela humilhação.
— Filho da puta. Ele acha que a porra do mundo gira em torno dele?
— E quem diabos você pensa que ele é? Ele é o parceiro de vida do Riki. O cara que você está dando em cima pode ter o melhor do grupo. Ele é quem vai escolher. Não você.
— Ei, não leve tão a sério. Comparado com Riki, somos todos crianças.
Provavelmente tudo começou lá. No verdadeiro sentido do termo, ele tomou conhecimento de “Riki” como uma extensão da Bison. Dois anos se passaram desde então. Kirie ainda era tratado como o menor do bando, e ele nunca havia apagado a chama das emoções que ferviam em seu coração.
Por outro lado, Riki considerava Kirie um pé no saco. A raiva que brotava em seu interior não podia ser reprimida tão facilmente. Esta não era a primeira vez que a atitude provocativa de Kirie o afetava, e não era exatamente calmante estar junto com toda aquela multidão.
Ele estava tão dominado pelo desgosto que quase quis vomitar. Caminhou como se arrastado pela maré humana, e eventualmente a náusea na boca do estômago se tornou uma bola de urtigas escaldantes. Ao se aproximar das cabines de “amostragem” situadas no centro da praça, seu estômago se contraiu.
Entre as paredes das pessoas havia uma coleção de “animais de estimação” que constituíam as “principais atrações” do leilão. Estes foram os “itens de exibição” exibidos para o público em geral. Durante o leilão em si, uma grande variedade de animais de estimação seria colocada à venda em cada sala de leilão.
Dentro de quartos resplandecentemente mobiliados que foram divididos em cubículos para cada centro de fabricação, os animais de estimação não desconfiavam enquanto aguardavam sua vez. Estes foram os “artistas” de estreia de cada centro. Apesar da variedade de sexos, da cor da pele, dos cabelos e dos olhos, a simetria flexível de seus membros e suas graciosas fisionomias não decepcionavam. Todos os seus méritos relativos correspondiam em todos os aspectos.
A linha recente mais vendida era uma cruza humanoide de lêmure — incluindo a calda. O tamanho e a mistura genética foram variados, cada um com sua própria coloração única e individualizada. Entre eles, “Exile” da linha da empresa Galott se destacou da multidão com sua aparência refinada e a excelente pelagem de sua cauda.
Junto com Exile, todos os lêmures ornamentais de Galott eram fêmeas castradas. Os “Meludes” de Luxia assumiram uma posição decididamente inferior à linha de Galott, mas como eles podiam acasalar e serem criados para produzir descendentes numericamente superiores, quase da noite para o dia um frenesi de reprodução estourou entre os recém-endinheirados da região e as classes privilegiadas da Comunidade.
O que realmente chamava a atenção entre o pot-pourri nos estandes, as estrelas do show, eram os animais de estimação fabricados pela Academia.
Cabelo dourado translúcido. Pele branca com textura fina. Lábios vermelhos úmidos. Traços delicados e juvenis que tornavam a identidade sexual difícil de discernir, mas contraditoriamente, ao mesmo tempo exalavam um charme estranho e sedutor que provocava um arrepio na espinha.
Claro que os preços de abertura listados eram dez vezes a média, colocando-os em uma liga completamente diferente. Uma vez que o leilão começasse, os lances, sem dúvida, excederiam isso várias vezes. Para aqueles que colocavam seus corações e almas em “obras de arte refinadas” e tinham tempo e dinheiro de sobra, certamente tinham motivos para pensar assim.
Obras-primas de renome conhecidas como “raças de sangue puro” foram vendidas em pet shops sancionadas pelo governo na metrópole central de Tanagura sob a marca oficial do Academy Science Center.
Esses eram os preciosos produtos finais do trabalho perfeito com o que há de mais moderno em biotecnologia. Além disso, não meras réplicas humanas, mas apenas aquelas criações “originais” que foram aperfeiçoadas até o sangue, até os genes, foram oficialmente reconhecidas. A pura beleza dos mascotes da Academia justificava tanto orgulho.
Esse orgulho significava que apenas os animais de estimação fabricados pela Academia podiam esnobar friamente os olhares de ciúme e inveja que fluíam através do vidro. Cada certificação única de pedigree simbolizava seu inabalável orgulho e autoconfiança.
Naturalmente, como “animais de estimação”, qualquer que fosse o grau de “valor agregado” que possuíssem não os levavam de forma alguma a serem considerados “seres humanos”.
Uma vez por ano, a espetacular exposição que era o Leilão de Animais de Estimação de Midas abria as cortinas para as promissoras indústrias de Tanagura. No entanto, era um fato sombrio que sua reputação no mundo exterior tinha sido extremamente ruim apenas cinquenta anos antes.
“Um comércio de escravos à moda antiga”, era o nome. “Uma vitrine para as violações dos direitos humanos.”
O turbilhão de críticas que sopravam da capital da Comunidade era mordaz e interminável. Não só o leilão, mas a própria existência de Midas, símbolo de tudo que era hedonista e dissoluto, colocavam seus nervos à flor da pele.
Uma cidadela de prazer sem noite nem dia, além de raça, sexo e moralidade — se esse era o rosto que Midas mostrava ao mundo, então o rosto conspiratório das maquinações e do dinheiro era a realidade feia e triste que revelava nas sombras.
Era Tanagura com aquele ninho de injustiça enfiado no bolso de trás. O semblante coletivo da Comunidade já estava se contorcendo de aversão, e isso só corroeu seu auto-respeito ferido.
As Cidades-estados independentes estabeleceram constantemente federações para manter e preservar o quid pro quo* mútuo das relações econômicas e políticas. Mas reivindicar autonomia não o torna independente. Poucas dessas cidades eram verdadeiramente independentes em todos os aspectos. Em vez disso, um punhado de grandes municípios foi absorvido por uma “cidade protegida” ainda maior sob o domínio de uma “república”, que na verdade eram pouco mais do que regiões autônomas subordinadas funcionando em grande parte como colônias de fato.
Entre eles, independentemente da comunidade governante, independentemente da presença ou falta de interferência externa, e não cedendo a ninguém, estava Tanagura.
Amöi era o décimo segundo planeta do sistema estelar Garan. Um planeta pequeno e distante raramente visitado, mesmo por criminosos que fogem da lei. Faltavam recursos e minérios preciosos, e originalmente não era habitado por criaturas vivas. Mesmo as inspeções da Comunidade realizadas rotineiramente a cada poucos anos foram interrompidas e não foram retomadas.
Por um longo período de tempo este sistema estelar empobrecido não tinha visto nenhuma colonização ou imigração dirigida pela Comunidade. Então, no início de um ano, uma nave do Abis Think Tank pousou no planeta.
Determinados a pensar “fora da caixa” e com o objetivo de criar uma metrópole prototípica livre de pressões políticas ou tabus religiosos, eles começaram a construir Tanagura. Um grande número de cientistas foi trazido para Tanagura com o objetivo de promover a inteligência e a prosperidade humana, dando origem ao supercomputador chamado Júpiter.
Cada fragmento de informação disponível e enormes quantidades de dados foram disponibilizados para os bancos de memória da inteligência artificial, não com a intenção de adicionar camada sobre camada de para criar uma espécie de “enciclopédia”, mas sim para dotá-la de um senso avançado de si mesma.
Um dia ele percebeu a verdade de sua própria realidade existencial. Seus chamados “criadores” humanos só podiam considerar o que se seguiu como o comportamento enlouquecido de um lunático. Declarou o computador:
“APENAS AQUELES APTOS A EXERCER O PODER DEVEM EXERCÊ-LO.”
Foi assim que ele respondeu à “ofensa” inédita de que um computador deve ser forçado a se curvar a seres humanos. Como resultado, o poder foi tirado do povo de Tanagura e investido no córtex central da cidade que era Júpiter.
O outrora empobrecido planeta de Amöi olhou para um imutável céu azul lavanda, atravessado pela luz das estrelas.
Quando as cidades da Comunidade tomaram conhecimento dessa nova realidade e entraram em pânico, Tanagura já havia transformado a grotesca metrópole e domado seus habitantes humanos. Aos poucos, ela foi ficando cada vez mais segura de si mesma, ignorando o que acontecia ao seu redor, fazendo seu trabalho com precisão e rapidez, com uma indiferença quase fria.
A “cidade metálica”, o princípio da beleza funcional e da racionalidade fria, provou ser uma obra-prima organizacional, uma vitrine de eficiência e limpeza. A imagem friamente serena que oferecia estava muito distante da sujeira comum da existência humana e seu calor.
Com paciência e calma incansável, as câmeras espiavam de todos os cantos e recantos, estendendo o “eu” de Júpiter até os confins de seu sistema nervoso em rede.
Tendo ultrapassado o conhecimento de seus criadores e semeado o medo por toda parte, qual seria seu próximo passo? Poderia tornar-se o Deus Todo-Poderoso que seu próprio nome sugeria, servido por androides recém-criados e um cérebro confiável treinado e educado para se adequar a ele?
Então Tanagura tentou trazer uma prosperidade ainda maior repudiando os grilhões de carne e sangue que definiam os limites da existência humana e rejeitando os limites da mortalidade humana.
Muito simplesmente, nada além desta conclusão distorcida poderia ter surgido das loucas ilusões do ego de Júpiter. Ali havia uma realidade, um vislumbre de um futuro onde os seres humanos, que estavam presos pelos limites irrevogáveis da morte, seriam criados para servir a máquinas imortais.
Como era de se esperar, as cidades-estados da Comunidade deixaram claro seu desagrado e ergueram suas vozes em críticas amargas. Em todas as épocas os fortes engordaram banqueteando-se com os fracos; não havia necessidade de mergulhar nos livros de história para obter exemplos. Esta era a mesma lei da natureza que os próprios regentes da Comunidade praticavam impiedosamente.
As regras desta lei diziam que um dia eles poderiam se encontrar na mesma posição que as cidades súditas agora prostradas a seus pés.
Dia após dia, Tanagura solidificava mais sua posição sem tabus ou restrições, impulsionada pelos avanços da biotecnologia e da eletrônica que prenunciavam a próxima era.
Os funcionários da Comunidade sentiram a ameaça com uma repulsa quase insondável, mas não podiam negar que dependiam do que agora estava disponível para eles. Com isso em mente, a Comunidade começou a perceber seus verdadeiros sentimentos sobre o assunto.
E antes que alguém percebesse, as críticas diretas e públicas e as vozes pedindo a abolição dos detestáveis leilões de animais de estimação começaram a diminuir. Em apenas cinquenta anos, sua moral e sensibilidade pessoais foram à ruína, como se estivessem caindo de um penhasco.
Os modismos tolos corriam desenfreados, as pessoas se reunindo como pássaros da mesma plumagem grasnando, aparecendo em Midas para pintar seus nomes com luzes. Tornou-se o novo barômetro do poder político e financeiro.
A maior emoção e a maior excitação são o poder sobre a vida e a morte. Tais declarações foram cogitadas como uma coisa natural, enquanto eles se vangloriavam pelo Distrito do Prazer e se infiltravam nos Leilões de Animais com dinheiro para queimar.
Que com o tempo o bem e o mal se acostumam um ao outro talvez seja apenas a natureza humana. Leve as coisas longe o suficiente e o mal se torna bem. Contra o pano de fundo de tal realidade, o caráter humano era, sem dúvida, suscetível de falhar à medida que as rodas da razão giravam fora de seus rolamentos.
Talvez porque o leilão da classe S mostrando os animais de estimação fabricados pela Academia — os favoritos em qualquer competição —, fosse abrir às três horas, a enxurrada de pessoas em direção ao Mistral Park não havia diminuído desde o meio-dia.
Um barulho entusiasmado envolveu os pavilhões e se espalhou pela praça, onde o vento quente do hálito humano parecia grudar na pele. O desconforto fez Riki estalar a língua de desgosto. Foi quando ele inesperadamente sentiu alguém olhando fixamente para ele. Esta não era uma sensação fantasma. Enrolava-se ao redor dele como uma píton, ininterrupta pelas correntes impetuosas da carne humana.
“Que diabos-!”
Lutando contra a multidão, a sensação foi forte o suficiente para detê-lo.
— Ei! Não vá parando assim!
— Por que esse bastardo está parando?
— Ei! Se mexa, imbecil!
Rajadas de insultos atingindo-o na cabeça e nos ombros, Riki virou-se lentamente, examinando a multidão.
— Riki? O que foi? — Guy perguntou curioso, parando ao lado dele.
No entanto, Riki não estava inclinado a responder quando o olhar irritantemente sedutor se desviou.
De onde vem?
Podia ser qualquer um, irritando-o de uma maneira que ele não entendia.
Ele juntou as sobrancelhas, estreitou os olhos e então, abruptamente, seus olhos se encontraram. Uma escuridão de chumbo o envolveu como o levantamento repentino de uma névoa à meia-noite de uma noite sem lua. O olhar insolente penetrou em suas órbitas oculares como uma broca em madeira macia.
Riki ficou imóvel, como se suas funções motoras tivessem sido paralisadas por um poderoso choque elétrico. Só o rosto de seu oponente se erguia clara e distintamente no meio das sombras que nadavam em seu campo de visão.
O rosto exibia uma espécie de beleza profundamente esculpida que levaria até mesmo os reverenciados animais de estimação fabricados pela Academia a esfregar os olhos de surpresa. Era uma beleza tão extraordinária que, por si só, provocava sentimentos de admiração. Seus olhos estavam sombreados por óculos escuros, mas não havia dúvidas de onde sua atenção estava focada. Ele olhou para Riki, sem mover um músculo.
O coração de Riki disparou como pistões* batendo em seu peito. Em seus olhos arregalados e atônitos, e por todo seu corpo desajeitadamente rígido, as correntes do tempo pararam pesadamente e pareciam começar a retroceder. A batida furiosa de seu coração batia impiedosamente, arranhando sua garganta, abrindo os olhos sempre verdes da memória.
Guy sussurrou para ele. “Ei, Riki. Você conhece esse cara?” A quietude entre os dois fez a pergunta parecer uma tosse em uma sala de concertos silenciosa. “Você está brincando comigo, certo?” Um tremor ligeiramente rouco penetrou em sua voz. Incapaz de desviar os olhos do rosto deslumbrante do homem, Guy disse novamente: “Certo?”
Sua voz surgiu em um sussurro desajeitado, estrangulado por uma barreira no ar. Kirie quebrou o muro de silêncio com um assobio.
— Caramba, olha só pra isso! Ele tem um cabelo bem comprido. E é um loiro- — Kirie sinalizou o resto da frase com um empurrão de queixo.
Um cabelo comprido… Loiro. Não é de admirar que Kirie olhasse com espanto. Ostentando o poder de sua própria presença, sua roupa simples e funcional em meio à multidão extravagantemente vestida teve o efeito contrário, chamando a atenção das pessoas.
Era o tipo de traje peculiar próprio de Tanagura e usado pelas elites, que geralmente usavam cabelos longos para se distinguirem dos androides. Essas elites possuíam proporções equilibradas, comportamentos perceptivos, cérebros de QI de mais de 300 e corpos projetados reprodutivamente estéreis.
A cor do cabelo foi determinada de acordo com o sistema hierárquico de castas NORAM. Aqueles com responsabilidades externas, ou seja, os administradores que funcionavam como a “cara” de Tanagura, eram conhecidos como Onyx, de cabelos pretos. Seus conselheiros, subdivididos de acordo com os campos de suas especialidades individuais, eram Rubi, Jade e Safira. Os cabelos prateados de Platina identificavam os que ocupavam vários cargos de alta liderança.
A “elite da elite”, com autoridade para se comunicar diretamente com Júpiter, eram os Loiros. Mestiços das favelas raramente tinham a oportunidade de admirar esses “deuses da beleza” de perto assim. Foi uma oportunidade única na vida, se é que alguma vez houve uma.
Kirie disparou.
— Ei, aquele cara ainda está olhando para nós! Ele está interessado em nós ou o quê? Devemos acenar de volta?
A brincadeira de Kirie havia se tornado uma espécie de piada aceita entre seus amigos, sempre tinha alguém que ficava sério, ou relutava em aceitar. E então todos riam e terminavam com isso. Esse era o padrão habitual.
Mas desta vez Riki revidou de mau humor.
— Idiota! Este não é o momento nem o lugar! Se você tem tempo para falar merda, então vá embora e faça em outro lugar!
Kirie tinha sido tocada pelo ar venenoso do leilão? Ou foi Riki? Um pouco perplexos, Sid e Norris tentaram pacificar Riki.
— Ei, Riki, por que você está tão sério?
— Sim. É apenas o Kirie sendo o idiota de sempre.
— O quê? Aquele cara está nos olhando. Temos chance. Vamos pegar, ok? — Kirie disse, seu tom de voz estranhamente tenso de excitação — Olha, é a porra de um Loiro, certo? Um daqueles tipos de super elite que quase nunca aparece em Midas!
Os olhos febris e incompatíveis de Kirie estavam dando nos nervos de Riki, mas Kirie não parava.
— Nós não temos nada a perder! Pode ser uma chance em um milhão, Vamos, vamos!
Por um breve momento, a maneira de falar de Kirie era a própria imagem da valentia.
Riki franziu as sobrancelhas e conteve a língua, mas não foi porque de repente ficou sem palavras. Sem perceber, seus punhos cerrados começaram a tremer. A parte de trás de sua garganta doía. Ele ficou impressionado com a sensação inescapável de que estava sendo mostrada a poderosa semelhança entre Kirie e ele.
Que diabos-! Riki rangeu os dentes de trás. Por quê? Como? De todas as coisas, por que agora?
Kirie estava na frente dele com um sorriso triunfante nos lábios. Pela primeira vez seu corpo queimou com a perspectiva de colocar Riki em seu lugar, e ao contrário de antes, ele não sentiu uma pontada de apreensão em seu estômago.
— É uma pena que você e seu carisma não tenham mais coragem para ir a luta. Sua era acabou.
Mas o prazer de bater na cara dele só com palavras era completamente diferente, como se tivesse se tornado nada mais do que um tique verbal. Empurrando Guy e Riki de lado, Kirie partiu triunfante em um ritmo acelerado.
— Você está bem com isso, Riki? Apenas deixá-lo ir assim? — Guy perguntou, com uma voz preocupada. Seus olhos seguiram Kirie enquanto ele se lançava na maré humana, subindo e descendo entre as ondas.
— Deixe-o fazer o que ele quer, — Riki disse simplesmente, uma expressão chateada no rosto.
No entanto, a dor forte e latejante permaneceu. Não tinha nada a ver com os tiros verbais de Kirie, mas com sua própria determinação. Sem olhar na direção de Kirie, ele olhou para frente para confirmar a presença contínua do Loiro. Quando o fez, como o esperado, o homem estava sorrindo. Um sorriso frio, apenas os cantos mais nus de seus lábios finos se erguendo. Não era uma miragem ou uma alucinação. Ele estava sorrindo como se fosse rir de Riki com desprezo.
Naquele momento, uma sensação ardente de indignação surgiu dentro dele e trouxe arrepios em sua pele. O impulso de tirar aquele sorriso frio e condescendente da porra do rosto do homem e o chutar lhe dominou tanto que a visão de Riki ficou vermelha.
Kirie e o rosto requintado do homem desapareceram de vista, arrastados pelas correntes humanas. Instigado por Guy, Riki mordeu o lábio mal-humorado e começou a andar quando uma tristeza pesada e indescritível apertou seu estômago.
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