Ai No Kusabi - The Space Between - Capítulo 19
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- Capítulo 19 - Fim da 3ª Temporada
As estrelas cintilavam no céu noturno claro. Os crescentes sombreados das duas luas penduradas nos céus se destacavam nitidamente contra o negro do espaço. A escuridão gélida envolvia os ombros de um homem como um fino e frio cobertor. Tudo o que se via, até onde a vista alcançava, estava imóvel como a morte.
Um brilho alaranjado perfurou a escuridão, revelando toda a confiança de um único ponto de luz cercado por um mar de sombras. Encolhido atrás de um muro que absorvia a luz, Guy soltou outro pequeno suspiro.
— É de se imaginar. Cheguei cedo.
Ele não havia notado a mensagem de texto de Kirie em seu terminal até a noite anterior. Precisamos conversar. Essa única frase foi seguida de um local e horário de encontro.
Foi graças a Kirie que eles tiveram que cuidar dos Jeeks. O mundo de Guy estava em alvoroço por causa disso. Considerando as circunstâncias, Kirie descaradamente lhe enviar uma mensagem como essa o deixou sem palavras.
Mas ele realmente queria saber o que o pequeno bastardo estava tramando. Era por causa de Kirie, que exibia seu dinheiro por toda parte e deixava seu ego inflar, que os Jeeks estavam demonstrando tanta violência. Todos eles eram um bando de ratos de favela malcriados. Os dois grupos juntos, trabalhando em um ciclo vicioso, tornaram as favelas um lugar ainda mais difícil para se viver.
Guy pensou em ignorar a mensagem de texto, mas ele também tinha alguns problemas com Kirie, então decidiu se encontrar com o idiota. Mas com a aproximação da hora marcada, Guy estava com dúvidas. Se Riki descobrir, ele vai ficar puto.
Todos sabiam que Riki detestava Kirie e não fazia nenhum esforço para esconder isso. Kirie era mais ou menos igual. Ele não fazia nenhuma tentativa de conter suas palavras e ações, não importava quantas vezes Riki o rejeitasse.
A animosidade compartilhada por Riki e Kirie parecia mais uma rixa de sangue do que a de inimigos natos. A semelhança familiar não podia ser claramente apontada, mas às vezes, as coisas surgiam inesperadamente. A forma como Luke e os outros se agarraram a Kirie convenceu Guy de que não estava apenas imaginando coisas. Sid foi quem trouxe Kirie. Quando Guy pensava sobre isso, percebia que era Kirie quem sempre quis acessar o esconderijo de Hermes e planejou como se agarrar a Sid. Embora Riki tivesse abandonado as rédeas e dissolvido a gangue, o nome da Bison continuava vivo na lenda e atraía os bajuladores: lisonjeiros, puxa-sacos rastejantes e aqueles que apanhavam mas nunca aprendiam. Eles simplesmente continuavam chegando.
Entre todos eles, Kirie foi o único que conseguiu se manter firme.
Talvez todos estivessem perseguindo a mesma sombra de Riki que haviam avistado. Até agora, Guy não conseguia deixar de rir de si mesmo. Suas atitudes indulgentes alimentavam o enorme ego de Kirie. O carro aéreo iluminado de Kirie era uma extensão berrante de sua própria personalidade. Ele não conseguia deixar de agir como o esnobe que era.
Guy e os outros não invejavam os olhos arrogantes que os olhavam de cima a baixo, mas achavam tudo aquilo ridículo. Eles entendiam a essência turbulenta de suas próprias naturezas. E, portanto, entendiam o que era essencial e o que era desperdício. Kirie era um desperdício.
Então, um dia, sem dizer nada a ninguém, Riki desapareceu das favelas.
O custo de usar Kirie para amortecer aquele sentimento de perda foi os Jeeks. Eles não podiam culpar apenas Kirie, mas a bomba de gás de Kirie foi o último golpe na paz e na calma de suas vidas cotidianas. Não tinha como voltar atrás.
Por outro lado, uma sorte inesperada também tinha vindo na direção deles.
Riki o Negro, hein? Guy acendeu um cigarro e deu uma tragada. Por que Riki tinha abandonado a Bison — aqueles três anos perdidos — era motivo suficiente para justificar uma visita a Robby, o vendedor de informações. Mesmo que Guy conseguisse apenas vislumbrar a verdade.
“Você ficou bem assustador, Riki. Mesmo andando por aí como um cachorro derrotado, ainda tem algumas cartas na manga.”
As palavras de Robby foram estranhamente reconfortantes. Apesar de todas as aparências, Riki ainda era Riki. Sabendo disso, Guy sentiu como se um grande peso tivesse sido retirado de seu peito.
— Guy? — Uma voz chamou da escuridão, interrompendo seus pensamentos.
— É você, Kirie?
— Sim. — foi a resposta curta, seguida pelo som de pés pisando em entulhos. — Desculpa por te fazer vir a um lugar assim.
Ouvindo os passos se aproximando, Guy de repente se perguntou há quanto tempo Kirie estava ali. Guy não tinha percebido a chegada de Kirie, apesar do silêncio absoluto ao redor. Ainda assim, ele não queria pensar muito nisso; só queria resolver isso logo. Ele esmagou o cigarro com a ponta da bota e esperou por Kirie.
— Obrigado por vir, — cumprimentou Kirie com um sorriso. Pelo menos, Guy pensou que fosse um sorriso; ele estava se baseando na nuance da voz que ouvira na escuridão.
— Vamos só fazer isso, certo? Não é como se eu estivesse morrendo de vontade de te ver de novo. — Guy queria deixar claro desde o início que não pretendia ficar amigável com Kirie.
— Você só queria dar o primeiro golpe.
— Seja lá o que for, — respondeu Guy rapidamente. — Eu também tenho algumas coisas para conversar com você.
Era o verdadeiro motivo pelo qual Guy tinha vindo.
***
— Hum… ele não está atendendo.
Depois de deixar o telefone de Guy tocar uma dúzia de vezes, Riki finalmente desligou a ligação. Ele tinha pensado em pegar um jantar com Guy, mas isso não aconteceria se ele não conseguisse falar com ele.
— Então é isso, suponho, — disse Riki com um suspiro, e saiu sozinho de seu apartamento.
O carro aéreo de Kirie saltitou sobre o neon brilhante, dispersando reflexos em seu rastro. Entregando-se àquela sensação única de flutuação — muito diferente da emoção de correr em uma moto voadora —, Guy suspirou resignado e se perguntou como as coisas haviam chegado àquele ponto.
Encontrar Kirie e dar-lhe uma bronca deveria ter sido o fim das coisas… mas Kine continuava insistindo, prometendo a Guy informações valiosas.
— Me dá só uma chance, — insistiu Kirie. — Estou pensando no seu melhor, cara. E você não tem nada a perder seguindo adiante com isso.
Kirie definitivamente estava tentando convencê-lo com alguma história. Aceitar um passeio no seu carro aéreo era a última coisa em que Guy pensava. Mas então Kirie disse: “Olha, só encontre com ele. Só para provar que eu fiz o esforço. Você faz isso, e eu prometo que não vai se arrepender de ouvir a história que ele vai contar para você.”
A história que ele vai me contar.
— Você não quer saber o que o Riki estava fazendo depois que deixou a Bison?
Em qualquer outro assunto, Guy teria virado as costas e ido embora. Ele poderia entender Robby tentando convencê-lo com uma história dessas, mas Kirie? O que ele sabia sobre isso?
Mas a história dos três anos perdidos de Riki era algo que Guy queria saber. A qualquer custo. As insinuações no sorriso de Kirie estavam mexendo com ele, então Guy cedeu à pressão e acabou no carro aéreo.
Ele deveria estar preocupado com onde iriam acabar, mas não estava. Cortando através da paisagem venenosa de néon, Kirie deslizou o carro aéreo pelos estreitos desfiladeiros entre os prédios. Tarde demais, Guy se perguntou o que diabos estava acontecendo.
Eles pousaram e saíram. Kirie não deu indicação do destino final enquanto caminhava alguns passos à frente. De vez em quando, olhava por cima do ombro para confirmar que Guy ainda estava lá, e então continuava seu caminho.
Quando finalmente chegaram, Guy se viu em uma suíte deslumbrante, do tipo que ele nunca tinha visto antes. “Merda”, ele murmurou. Um lugar assim deve custar uma fortuna.
O espaço amplo e espaçoso ostentava todas as conveniências possíveis. As superfícies polidas da mobília e dos eletrodomésticos do cômodo brilhavam com um brilho intenso. Em comparação com as favelas monótonas, o lugar fazia Guy se sentir desconfortável e deslocado. Ele sabia que havia chegado a um lugar ao qual absolutamente não pertencia. Essa sensação desconfortável só aumentou quando, finalmente, um homem requintado, de cabelos dourados, apareceu na frente dele.
Um loiro! A nobreza de Tanagura, a elite das elites.
De repente, Guy o reconheceu como o mesmo homem que eles haviam visto naquele dia no Mistral Park. Aquele que havia afetado tanto Riki. Mesmo com o rosto meio escondido por óculos escuros, não havia como esconder uma beleza tão fora do comum.
— Obrigado por nos receber. — Kirie abaixou a cabeça na frente do Loiro.
Era tão diferente do punk arrogante que Guy conhecia que ele quase riu alto. Por um longo segundo, ele ficou olhando para os dois. Mas o modo como os olhos frios penetraram em Guy como um par de picaretas de gelo fez com que os pelos de sua nuca se arrepiassem.
— Então você finalmente decidiu vir me ver. — As palavras do Loiro ecoaram, fazendo o coração de Guy acelerar. — Bom trabalho. E aqui está sua recompensa prometida.
Ele deu um cartão a Kirie e Kirie o colocou no bolso do paletó. Um olhar de incompreensão estupefata tomou conta do rosto de Guy enquanto ele olhava de um lado para o outro entre Kirie e o Loiro.
— Desculpe, Guy, — disse Kirie em resposta — Mas um homem tem que fazer o que é necessário. Não dava para avançar para o próximo nível sem você.
Naquele instante, a realização atingiu Guy como um choque elétrico dentro de sua cabeça. — E-espera um minuto! — gaguejou. — Que diabos é isso? É algum tipo de piada? — Sua voz indignada se elevou em um grito estrangulado. O sangue jorrou em suas veias, batendo como uma onda de maré contra seu coração.
— Ele te queria, não importando o custo, — disse Kirie, com um tom estranhamente persuasivo em sua voz. — É uma situação vantajosa para ambos.
Guy sentiu como se seu temperamento em ascensão tivesse sido repentinamente atingido por um balde de água fria.
— Então você ganha dinheiro vendendo seus amigos. — murmurou ele, a revelação se formando completamente em sua mente quando as palavras saíram de sua boca. Mas era um pouco tarde demais para o seu próprio bem. Esse era o “negócio” de Kirie… era por isso que ele estava ficando amigo dos pirralhos da favela.
— Não seja tão ingênuo. Uma oportunidade cai em seu colo e você a agarra. Não é o que todo mundo faz? Caso contrário, você será um lixo da favela para sempre. Farei o que for preciso para sair das favelas.
O prazer evidente que Kirie sentia ao jogar sujo fez Guy estreitar os olhos. Guy podia ouvir ecos de Riki nas palavras que Kirie lhe cuspiu. Mais uma semelhança familiar.
Não vou ficar sentado com um olhar triste para o resto da minha vida, disse Riki certa vez. Que desperdício. Se eu ficar assim para sempre, vou apodrecer de dentro para fora.
Por que Riki odiava tanto Kirie? Pela primeira vez, Guy sentiu que entendia. Era por isso que todos inicialmente foram atraídos por Kirie, por que recorreram a ele quando Riki desapareceu. Mas nada disso importava. Kirie não era nada.
A cópia não era nada parecida com o verdadeiro.
Riki abandonar a Bison foi um reflexo de seu orgulho e determinação. Ao trair seus amigos, Kirie estava jogando seu orgulho na sarjeta. O que eles estavam fazendo parecia semelhante, mas as razões por trás disso eram onde as diferenças reais se destacavam.
— Eu tenho planos para o meu lugar. E você? — zombou Kirie.
“Você é o que está se agarrando às aparências”, pensou Guy, mas ele guardou as palavras para si mesmo. O que ele dissesse naquele momento não faria diferença.
— Esta é sua chance de ser o animal de estimação de uma elite. Por minha conta. O prêmio está bem aí na sua frente, e tudo o que você precisa fazer é agarrá-lo. Com o tempo, você vai me agradecer por isso.
Guy não tinha dúvidas de que Kirie estava muito errado nesse aspecto. Aquilo nunca iria acontecer. Ele e Kirie estavam buscando coisas completamente diferentes, e essa versão distorcida da realidade era a única maneira que Kirie encontrava para lidar com o que estava fazendo. Embora isso irritasse a maioria das pessoas, Guy se acalmou e tomou controle de seus sentimentos.
Guy teve pena da estupidez de Kirie. Um dia ele teria o que merecia — ele podia imaginar isso claramente. Fazer aos outros exatamente o que eles fizeram a você era a lei das favelas. E quando esse momento chegasse, Kirie se arrependeria de não ter amigos para apoiá-lo.
— Bem, seja gentil com ele, — disse Kirie de forma displicente. O Loiro assentiu. Kirie saiu sem olhar para trás uma vez sequer. Sem o sarcasmo tagarela de Kirie, o quarto caiu em um estranho silêncio.
— Você cedeu muito rapidamente, — disse o Loiro por fim, parecendo um pouco decepcionado. — Eu estava esperando por alguns gritos e súplicas. — Ele riu friamente de lado.
Pensando em como responder da melhor forma, Guy desviou o olhar por um momento.
— Parece que fazer um escândalo não vai mudar nada.
O Loiro concordou silenciosamente com ele, sua voz tão calma que Guy tinha certeza de que o sentimento era completamente autêntico..
Um Loiro de Tanagura estava bem na frente dele. Guy sabia que não era um sonho ou uma ilusão, mas não conseguia se livrar da sensação de que aquilo tudo era uma espécie de piada de mau gosto.
— Então… quanto Kirie conseguiu por mim?
— Dez mil.
Guy ficou boquiaberto sem querer. Ele riu com escárnio, uma reação instintiva ao absurdo do valor.
— Ele está cobrando demais de você, sabia? Um vira-lata de favela cortaria a própria garganta por tanto dinheiro.
— Kirie disse praticamente a mesma coisa.
Os silêncios entre suas palavras sugeriam acréscimos não ditos.
— Por enquanto, vamos parar com essa história de me transformar em um animal de estimação.
— Por quê?
— Não há nada de desejável em mim. Não há nenhum diamante em bruto aqui — apenas cascalho que nenhum Loiro jamais gostaria. Portanto, você deve ter outros motivos em mente se realmente tiver que ser eu.
O Loiro sorriu, com os lábios desenhando uma linha fina e fria. Guy teve a sensação de que estava sendo mostrado a ele um tipo de homem completamente diferente. Ele voltou a ficar em silêncio.
— Bem, sinta-se em casa.
Aquilo estava longe do que Guy tinha em mente. E sabendo que o Loiro sabia disso, Guy virou-se e assumiu uma pose desafiadora.
— Se você estiver com fome, posso mandar preparar algo para você.
Guy cedeu. — Droga, se você insiste. — Parecia que ia ser uma noite longa, e ele não podia realmente escapar. Ele decidiu aproveitar ao máximo o que pudesse. Se colaborasse, talvez descobrisse algo interessante.
— O que você gostaria de comer?
— Qualquer coisa serve, — respondeu Guy enquanto se sentava no sofá. Ele não conseguia imaginar que tipo de comida era consumida em acomodações tão suntuosas.
Claramente não se ofendendo, o Loiro ativou um terminal com mãos habilidosas. Olhando para ele, Guy suspirou novamente.
Sim, algum tipo de piada. Quem iria querer tanto assim um vira-lata de favela? Eles eram becos sem saída. Todo caminho para sair da realidade que era a favela terminava em um bloqueio. Abatidos pelo desespero, os vira-latas estagnavam e se decompunham na escuridão. Guy sempre acreditou que passaria o resto de sua vida apodrecendo ali.
Ele não possuía o forte magnetismo animal de Riki, nem o impulso implacável que impulsionava Kirie a passar por cima dos outros para abrir seu próprio caminho. Ele não tinha a coragem de fugir para o mundo exterior. Então, o que uma pessoa como ele estava fazendo ali?
Por mais que pensasse sobre isso, ele não conseguia entender. Teria uma boa risada quando acordasse na manhã seguinte e descobrisse que tudo tinha sido apenas um sonho passageiro. Resignando-se à apatia, Guy soltou mais um suspiro.
Naquele mesmo momento, Kirie deu uma risadinha para si mesmo. Enganar Guy e entregá-lo a Iason tinha sido fácil demais. Ele tinha feito tudo tão bem que nem suou. Ele não sentiu nem uma pontada de culpa. Se soubesse que sua consciência o incomodaria minimamente, ele não teria ligado para Guy em primeiro lugar. Longe disso, um sorriso fino surgiu em seus lábios.
Ele havia feito um grande gol. Mas, em seu íntimo e com maior intensidade, outras coisas perturbavam sua paz de espírito. Guy havia ocupado seus pensamentos muito mais do que o necessário. Todas aquelas explosões de inveja que fumegavam dentro dele — hoje ele estava dando adeus a todas elas. Com essa resolução, ele não conseguiu conter o riso que borbulhava em seu interior.
Ele que se foda.
Por alguma razão, a imagem que lhe veio à mente naquele momento não foi a de Guy, mas a de Riki. O lendário Riki, que havia voltado para as favelas um ano antes. Durante sua ausência de três anos, Kirie nunca havia conseguido conquistar Guy, o parceiro de Riki. Aquele imbecil sempre lhe dava um gelo.
Mas agora Kirie tinha se vingado de Guy. E quando Riki descobrisse…
Kirie queria poder ver a reação de Riki. O pensamento o fez rir. Ele ficaria surpreso? Com raiva? Gritaria? Ou lamentaria? Kirie queria ver a atitude despreocupada de Riki finalmente desmoronar.
Com esses sentimentos distorcidos aquecendo seu coração, Kirie subiu em seu carro aéreo e acelerou pela noite adentro.
Nt Letty: Poc invejosa, esse Kirie! Ódio, apenas!
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