Afeição: O Chamado do Rei - Capítulo 3 — Parte 1
“Até mais, obrigado por me acompanhar hoje. Até à próxima semana.”
“Hm, até a próxima semana.”
Parado em frente a um antigo prédio japonês, não raro nesta área, Takahito se separou de Michiru.
Depois de se certificar de que Michiru havia passado pelo portão do jardim da frente e entrado pela porta de correr da casa, Takahito começou a andar.
Como logo chegaria a hora dos preparativos para o jantar, não havia sinal de vida na área residencial. Já que havia muitas casas antigas na área e a maioria dos residentes eram idosos, raramente havia estudantes e pessoas voltando do trabalho.
No inverno, também não havia pessoas conversando do lado de fora, o tráfego de pedestres era especialmente baixo.
(Vai ficar completamente escuro em breve, não vai?)
Da mesma forma que ontem, como depois da aula acompanhou Michiru até a biblioteca, Takahito estava chegando tarde em casa. Diante dos exames finais que começariam na próxima semana, os dois estavam estudando. Enquanto ajudava Michiru com o inglês, no qual ele era ruim, Takahito também revisava as áreas que seriam testadas.
Kizuki como sempre, embora fosse o período anterior aos exames estava participando das atividades do clube sem se importar. Mesmo assim, já que ele não cairia abaixo dos 10 primeiros em seu ano, seus professores e seus pais não se importavam.
Com um assobio, o vento do norte soprou contra Takahito, e a ponta de seu cachecol foi levantada para cima.
Durante o dia, os locais onde o sol brilhava eram adequadamente quentes, mas uma vez que a noite caísse, imediatamente ficava mais frio.
No entanto, para Takahito, esse grau de frio era agradável. Hoje era lua nova, então ele não poderia dizer que tudo estava perfeito.
(Mas, desse jeito também está bem.)
Além disso, quando a lua ficava cheia, o poder que subia em seu corpo seria demais.
Nessa medida, assim como Kizuki, ele não teria escolha a não ser dispersar a fervura do sangue selvagem dentro de si mesmo com ações compensatórias, como o esporte. Enganando-se com coisas que faziam seu corpo se mover…
Chegando a esses pensamentos, Takahito fez uma careta.
(Enganando a si mesmo … Por que eu só consigo pensar nas coisas de uma forma tão distorcida.)
Mesmo assim, do fundo de seu coração, ele tinha inveja de Kizuki, que conseguia jogar basquete com seus amigos.
Incapaz de mergulhar puramente em qualquer coisa, passivo em coisas que preocupavam profundamente os humanos também … Isso causou apenas um pouco de frustração crescendo dentro de si, o que o desagradou.
(Por que eu sou assim? Apesar de ser tão abençoado…)
Takahito sentiu que o sentimento de culpa, que o havia prendido na festa de Ano Novo ontem, havia começado mais uma vez a corroer gradualmente o interior de seu peito, então ele soltou um suspiro.
Sua mãe também se preocupou infinitamente assim em sua adolescência? Seu tio também?
Não … Sua mãe tinha uma personalidade aberta, então ele não tinha uma maneira de pensar como a dele.
Seu tio, que fora carismático desde a juventude, também definitivamente não se incomodaria com hesitações como essa.
Seu avô era uma pessoa que transcendia em muito coisas triviais como a autoconsciência.
Eles eram gêmeos, mas Kizuki, de forma natural, se encaixou entre os humanos e entrou em seus círculos internos.
Seu irmão estava em acordo mútuo com seu eu lobisomem e se dava perfeitamente bem entre os humanos.
Em alguns anos, ele definitivamente se apaixonaria por uma ‘companheira de união’ humana e criaria filhos durante a época de acasalamento…
No final, era só Takahito.
Só ele não conseguia se encaixar perfeitamente.
Takahito tinha presunçosamente pensado que era por causa de Michiru, mas, na verdade, seria ele quem ficaria sozinho se não houvesse Michiru.
Não abrindo seu coração para ninguém … Ele estava sempre ansioso sobre o que aconteceria se revelasse sua verdadeira identidade.
Como os humanos eram assustadores, Takahito fingia ‘frieza’ e os mantinha à distância.
Isso mesmo … Ele estava com medo.
Com medo de tudo.
Takahito estava com medo de se tornar um adulto, bem como de começar a gostar de alguém.
(Covarde.)
Ele havia apenas se depreciado, mas o medo que surgia não desaparecia.
Com sua inquietação se tornando um gatilho, uma sensação negra e turva transbordou do fundo de seu coração.
Incapaz de controlar os pensamentos negativos que de repente começaram a surgir, Takahito fechou os olhos com força e parou. O som de pés caminhando no asfalto estremeceu levemente.
(Há quanto tempo está assim?)
De repente, ele sentiu a presença de uma pessoa à sua frente.
Abrindo lentamente os olhos, Takahito viu, refletidas em seu campo de visão, botas pretas de engenheiro que pareciam derreter na escuridão.
(Antes que eu percebesse, uma pessoa apareceu?)
A questão em sua mente foi desfeita no momento em que ele levantou lentamente os olhos e viu o rosto do dono das botas.
“… Ahh …”
Sem querer, sua voz saiu.
Uma testa proeminente e uma ponte nasal alta. Sobrancelhas dando um leve sentimento de arrogância com lábios grossos.
Olhos âmbar que emitiam um brilho intenso como o de predadores perseguindo suas presas.
(É aquele homem.)
Não havia dúvida de que era o estrangeiro por quem havia passado ontem perto de sua casa.
Como ele tinha uma aparência muito impressionante, e porque seu abençoado físico transmitia um ‘sentimento’ especial, Takahito se lembrava muito bem dele.
(Por que ele está aqui de novo?)
(Talvez ele é um novo residente se mudando para este bairro? Ou talvez ele está visitando a casa de alguém?)
Enquanto Takahito estava parado e imaginando isso e aquilo, o homem deu passos largos. Assim, seus pés pararam a apenas um passo de Takahito.
Sua roupa de gola alta preta, calças escuras e um casaco longo preto era a mesma de ontem. Por estar completamente vestido de preto, mesmo estando de pé, ele emitia uma pressão muito forte.
Em pé, com os pés afastados na largura dos ombros, o homem olhou direto de cima com um brilho intenso em seu olhar.
No momento em que encontrou os olhos cor de âmbar do homem, todo o corpo de Takahito foi perfurado por uma fraca corrente elétrica.
“… Uh.”
Definitivamente, ontem também, ele lembrava desse calafrio que o percorreu.
Ontem Takahito imediatamente desviou os olhos, mas hoje, por algum motivo, seu corpo havia congelado e ele não conseguia se mover.
Preso por aquele olhar forte, e petrificado no lugar, as narinas de Takahito logo captaram um ‘cheiro’ peculiar.
(… O quê?)
Parecia que vinha do homem na frente de seus olhos, mas era um cheiro que ele nunca tinha sentido antes.
(Um perfume doce?)
Não, não era apenas doce. Como o calor e algo picante, havia também um estímulo pungente dentro daquela doçura. Como se em reação a esse estímulo, um arrepio aparecesse em sua nuca fria.
Enquanto concentrava seus nervos em seu olfato para captar as verdadeiras essências do cheiro que havia encontrado pela primeira vez, o interior do corpo de Takahito gradualmente esquentou.
Quanto mais ele inalava o ‘cheiro’ emitido pelo homem, mais corada e suada sua pele ficava.
(Isso é estranho … Estamos no meio do inverno.)
Esta foi a primeira vez que seu corpo gerou calor interno dessa forma mesmo não sendo lua cheia.
Sem o menor tremor, o homem olhou para Takahito, que estava perplexo com a mudança de seu corpo.
Porque a sensação de ser olhado de cima era autoritária e ele parecia ser do tipo com o qual não gostaria de se envolver, e como o estado de seu corpo também era estranho, Takahito queria ir embora se pudesse.
No entanto, como o homem estava o olhando há algum tempo, ele provavelmente tinha algo que queria dizer.
(Ele é realmente um turista, alguém que se perdeu e está em apuros?)
Se fosse assim, ele não poderia apenas ignorá-lo.
Não havia como evitar, então Takahito começou a falar com o homem.
“Há algo incomodando você, Senhor?”
Takahito poderia dizer que o homem era caucasiano por sua aparência, mas como não sabia de onde era, ele perguntou primeiro em inglês.
“…”
Não houve resposta do homem. Pensando que a outra parte não havia entendido, ele tentou repetir a mesma pergunta em francês. (T/N: criança prendada gnt kk)
“Há algo incomodando você, Senhor?”
Não houve reação.
Enquanto ponderava se deveria tentar falar alemão em seguida, de repente o homem se mexeu. A mão abruptamente estendida agarrou o braço de Takahito.
“O qu-“
Sem tempo para resistir, ele foi puxado. O equilíbrio de seus pés foi destruído e seu corpo cambaleante foi rapidamente virado.
“O quê?!”
No momento seguinte, depois que uma mão o abraçou pelas costas, a outra já havia coberto sua boca.
“… Mpff … Mm…”
Sua boca estava bloqueada, fazendo seus membros tremerem intensamente. Takahito resistiu com todas as suas forças, mas o braço do homem que o envolvia não tremeu nem um pouco.
(O que, o que há com esse cara?!)
Como um lobisomem, se Takahito se esforçasse seriamente, seria impossível para ele não conseguir se libertar!
Ele estava à beira do pânico devido à situação incomum, mas porque percebeu o perigo iminente para si mesmo, se concentrou em reunir todas as forças que tinha.
“… Mm … Mpff…”
Com um formigamento, veio uma pontada de dor no lado direito de seu pescoço.
Com uma picada, seu corpo inteiro se contraiu.
(Ele … Injetou alguma coisa?)
Takahito percebeu que um ‘calor’ estava gradualmente se espalhando do local da dor. Após a difusão desse ‘calor’, seu corpo rapidamente ficou mais pesado. A força de repente deixou seus membros.
Sua cabeça também ficou turva e atacada por uma sonolência intensa, sua consciência estava sumindo.
(… Droga … Isso é … Ruim …)
Entre os sentidos ficando entorpecidos um por um, o último sentido do olfato que restou captou algo incomum.
Aquilo que estava escondido dentro do “cheiro” doce e picante — o odor corporal do homem.
O ‘cheiro’ que lhe era familiar desde o nascimento e que não pertencia aos humanos.
(Este homem…)
(Ele é um lobisomem!)
Imediatamente após aquele grito em seu peito, como se puxado para a escuridão por um poder de estilhaçar a terra, a consciência de Takahito escureceu.
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- Tradutora de novels do inglês, espanhol, coreano e chinês. Também fiz um site com todas as novels que eu traduzo e com outras de uma amiga, tem mais lá, além do meu perfil do wattpad.
