A Década Depois Da Primavera - Capítulo 16
Cuidadosamente o envolvi na minha jaqueta.
Tinha receio em tocá-lo, as lembranças vinham como fantasmas. O que ele fez anos atrás me perseguia brutalmente. Foi quando acidentalmente toquei um líquido pegajoso na parte de trás da sua cabeça. Sob a luz fraca da lâmpada, vi uma mancha vermelha escura na palma da mão. Era a cor do sangue misturado com sujeira. Não houve mais nenhum som vindo de Oscar. Sua cabeça estava encostada no meu peito, enquanto sua mão pendia no chão sujo.
Tinha o dever de cuidar deles, ou jamais me reconheceriam, a voz no meu subconsciente cochichou como a serpente que tentou Eva. Tinha um sotaque misterioso e anormal. Não devia ficar remoendo o passado, deveria cuidar deles. Minhas emoções estavam agitadas, conflituosas. Mas as contive.
O abracei enquanto estancava desesperadamente o seu sangue. Não pude fazer mais nada. Não me atrevi a tocar mais nele com medo de que o ferimento atrás de sua cabeça ficasse mais sério. Olhar para seu rosto pálido era uma tortura para mim. Cada minuto que passou parecia um ano, no entanto, esperei apenas durante dez minutos por ajuda. A ambulância e a polícia local estacionaram juntas. Os insetos foram levados um a um, desejava o que de pior existia nesse mundo a cada um deles.
— Por favor, espere do lado de fora primeiro. Iremos informá-lo se algo acontecer. — A enfermeira e o médico do lado de fora da sala proibiram minha entrada depois de entrar com Oscar na sala de emergência.
— Você está ferido também? Por que você não vai limpar seu ferimento primeiro? — Uma enfermeira ao lado aconselhou gentilmente ao ver alguns vestígios de sangue no meu braço, bem como minha aparência desgrenhada.
Desviei o olhar da sala de emergência para averiguar meu braço e minha camisa.
— Estou bem. Este sangue é dele — minhas palavras não tinham emoções alguma.
Uma vez resolvidos os procedimentos administrativos, continuei esperando na entrada do pronto-socorro. Porém, não demorou muito tempo até que me chamassem.
Meu coração disparou quando me levantei e fui até a entrada da sala. Foi então que vi o médico.
— Quem é o parente de Oscar?
— Eu sou. O que aconteceu com ele?
— Por favor, siga-me. — O médico empurrou a porta e fez sinal para que o seguisse. — A criança está bem, não há problema com ele. O pai, no entanto, tem um ferimento na cabeça e continua sangrando. Ele não está cooperando. Precisamos suturar e enfaixar seus ferimentos imediatamente, mas ele parece estar em transe e continua resistindo.
Olhei para Oscar e congelei no lugar por um longo tempo.
Avancei lentamente. As enfermeiras ao lado automaticamente abriram caminho para mim, toquei sua mão que estava firmemente segura contra a cama pela enfermeira.
Diversas vezes, ouvir as pessoas dizerem que sou sempre racional, calmo, objetivo, e às vezes sem coração. No entanto, a gentileza e a mágoa reveladas em mim não pareciam com eu mesmo. Somente Oscar tinha esse poder sobre mim. Da mesma maneira que só ele tinha o poder de revelar o pior em mim.
— AH! Vão! — Oscar continuou balançando a cabeça, gemendo. Parecia estar em transe, num profundo pesadelo.
Acariciei sua mão. Me abaixei para sussurrar suavemente em seus ouvidos, minha voz era rouca. Meu tom foi surpreendentemente gentil.
— Desculpe, se eu tivesse atendido sua ligação… — Parecia que ele havia ouvido não minhas palavras, mas a emoção contida nelas.
Ele lentamente parou de mover seu corpo inquieto. Abriu seus olhos para me olhar com seu rosto pálido. Parecia relutante em acreditar se era realidade ou ilusão. Então falou um nome, não qualquer palavra, mas um nome. Furtivamente e intimamente falou-o.
— Oscar — falei. Minhas mãos tremeram, não só era a emoção nova como o nome dito que me faziam sentir estranho. Lentamente e gradualmente Oscar se acalmou. Fechou seus olhos e acariciei seu rosto.
Os que viram pensaram ser compreensão e aprovaram o ato. Não sabiam o que eu sentia. Era estranho e avassalador. Estava com ele e ele dizia um nome, não o meu! Por loucura, sanidade ou seja o que for, deixei para lá. Talvez ele estivesse confuso. Talvez fosse o nome de um daqueles homens. É, talvez. Fosse o que fosse, agora era passado. Era?
A enfermeira que estava sentada ao lado rapidamente pegou as ferramentas de suturar assim que viu ele acalmando-se. Preparou-se para limpar o ferimento na nuca.
— Não é tão doloroso, demos anestesia a ele. No entanto, tem certeza que quer ficar? A visão de sua ferida pode ser um pouco…
— Ele é o único suportando dor. Não há problema em ficar ao lado dele. — Agarrei ainda mais sua mão. Provavelmente ia ficar vermelha.
O médico não disse mais nada. Deu-lhe mais uma injeção de anestésico e raspou uma pequena parte de seu cabelo na parte de trás de sua cabeça. Então limpou o sangue e a sujeira ao redor da ferida, e começou a suturar a ferida.
Pela primeira vez, me senti absolutamente impotente. Pude apenas olhar para ele deitado de lado, enquanto o médico costurava seu ferimento atentamente. Não podia ignorar seu rosto pálido e branco, ignorar seu corpo coberto de sujeira e ignorar as mãos do médico atrás dele que continuavam suturando, ele parecia alheio à situação.
Não poderia deixar de compartilhar o fardo de toda a dor que ele havia sofrido. Depois que o médico terminou de limpar o ferimento na cabeça, retirou suas luvas. Ele cuidadosamente colocou sua cabeça de volta no travesseiro para evitar qualquer pressão sobre a ferida. Oscar recebeu cinco pontos. Ia ser lento, mas seus fios voltariam a crescer.
Após duas horas, depois que o médico saiu, Oscar fez uma tomografia para verificar se havia sangramento interno na cabeça. Verificaram se tinha sangramento interno em outras partes do corpo. Foram várias salas de check-up para fazer testes. Passou no departamento de cardiologia e neurologia para o departamento de ortopedia. Nos resultados não houve problemas e não precisaria de nenhuma cirurgia. O único problema era que a condição de seu corpo era tão ruim que ele precisaria de um tempo para se recuperar.
— A condição do seu corpo não é boa. Ele está muito fraco, precisa se cuidar. — Fez-se silêncio, o médico parecia pensar em algo. — Ele sofre ou sofreu de alguma doença?
— Não, acredito que não — respondi. Estranhei sua pergunta, mas o diálogo parou por aí. Pareceu se conformar com a resposta e se foi.
Quando tudo acabou, continuei segurando sua mão sentado ao lado dele. Não era Zhang, Luciana ou qualquer outro que estava ao seu lado, era só eu e nosso filho. O que Oscar disse antes não tinha importância, somente eu e o bebê estávamos ao seu lado. Ninguém mais. Relaxei enquanto ouvia sua respiração estável. O resto da noite passou cômoda e doce.
Betagem: Arabella (WD)