A Década Depois Da Primavera - Capítulo 10
Não sabia se estava em uma nebulosa paisagem de sonho ou se essa era a realidade.
Não havia nada lá e estava incrivelmente silencioso. O único som que podia ser ouvido era o murmúrio suave da voz atrás de mim. Quando olhei, vi o vislumbre daquela pessoa.
Seus olhos eram tão lúcidos ao ponto que pareciam penetrante. Ainda assim, sua voz era a mais calorosa de todas. Suas mãos e sua voz eram tão quentes. Gostava do seu calor.
— …Olhos Azuis Pálidos. — A voz ficou cada vez mais abafada, ao ouvir essa frase tudo ficou quieto. Afundei no silêncio novamente, aquele vasto e distinto vácuo.
O sonho se tornou um borrão, aquela pessoa instantaneamente desapareceu quando algo foi derrubado próximo do quarto, no corredor logo à frente.
O que foi isso?, perguntei-me, saindo do labirinto entre sonhos e utopia. Não abri minhas íris. Engoli em seco com a sensação desgradavel, uma espécie de déjà vu. O ruído sucedeu, dessa vez mais alto. Outro barulho veio, mas dessa vez de dentro do quarto, mais vivo e agudo. Meus sentidos abruptamente despertos, detectando a movimentação no ar.
Minha janela ficou aberta mais cedo. Presumi que fosse um animal, um criminoso, se não era isso, então, o que era? Parecia ser de madrugada, o ruído aumentou seguido por um toque de celular. Definitivamente havia alguma coisa ali.
Depois de um longo tempo, decidi me aventurar e abri os olhos, olhei ao redor, o quarto estava envolta em escuridão. Era tão denso que não conseguia ver nada além da luz reluzente do celular.
Pouco depois, ouvi alguém. Parecia que estava recuando lentamente. Só consegui ouvi os passos e logo desapareceram. Sentei-me, olhei para o aparelho que tocava. Não tinha ninguém no cômodo. O som parecia ter desaparecido novamente, mas voltou a tocar em seguida.
Fui até a beirada da cama, quando me abaixei para pegar o aparelho que estava no chão, meus olhos ficaram arregalados, olhando para o espaço ao lado da cama. A cena espantou-me, não menos que a pessoa na minha frente.
Não tinha como adivinhar que a pessoa deitada no meu tapete — enrolada em um cobertor enquanto dormia — era ninguém menos que Dominic!
Surpreendido, olhei para ele e depois para o celular que não era o meu. O silêncio preencheu o quarto como um véu pênsil no momento em que o toque cessou.
Levantei, indo até o interruptor, acendi a luz do quarto. A luz imediatamente encheu toda a sala. Cruzei meus braços acima do abdômen, franzi a testa, esperando a pessoa no chão acordar.
Dominic semicerrou os olhos com uma expressão confusa enquanto protegia o rosto com a mão, tentava se ajustar ao brilho repentino. Ele enterrou o rosto no cobertor, sem entender o que estava acontecendo. Pelo seu odor forte, estava claramente bêbado.
— Por que você veio dormir no meu quarto? — Apesar do meu pijama com adesivos de ursinhos, mantia minha postura ereta. Olhando-o seriamente, ele estava lutando para recuperar a consciência. — Onde está Luciana?
— Não encontrei ninguém quando cheguei, se tinha alguém com você antes, foi embora. Seu tapete… — Fez-se uma pausa. — É confortável. — Evidentemente estava embriagado.
Nunca havia conhecido uma pessoa que não gostasse de dormir na cama, no sofá, ou até mesmo no bar, ao contrário dessas pessoas, Dom preferia dormir no tapete enquanto bêbado. E isso era um tanto incomum.
— Volte para o seu quarto e durma — dizia olhando para seu rosto, com meu dedo indicador indiquei a porta do quarto.
— É muito ruim. Não consigo dormir. — Dom balançou sua cabeça, ele não queria sair do tapete. Parecia uma criança rica fazendo birra para não ir tomar banho.
Não consegui entender seu comportamento. Vê-lo deitado lamentavelmente no tapete enquanto dizia não querer ir com uma expressão completamente séria me confundiu além das palavras. O olhei estranhando sua repentina mudança, de um homem frio para um homem bêbado e dorminhoco. Não entendia seu humor que mudava de um dia para o outro.
Queria dizer algo, brigar com ele e expulsá-lo, mas quando abri minha boca percebi que não sabia o que dizer, minha mente ficou em branco por um momento enquanto olhava-o.
Era ousadia minha dizer que seus cabelos desgrenhados grudados sob sua testa, suas bochechas coradas por conta do álcool, sua pele branca, seus lábios framboesas e sua expressão tranquila o deixava afável? Talvez. Balancei minha cabeça freneticamente, expulsando esses pensamentos para longe e então retornei minha atenção para Dom.
— Podemos mudar de quarto, você fica com este e eu fico com o outro. Vou indo agora, pode continuar dormindo. — Tive que ceder e sugerir um plano para ele, que recusava sair.
Dominic parecia insatisfeito com minha sugestão.
— Não vá. Você pode continuar dormindo em paz. Não vou fazer bagunça, prometo que não vou perturbar seu sono — sua voz era abafada. Ele realmente não queria voltar para seu quarto, então continuou deitado no tapete invicto de sua atitude desdenhosa.
Não disse nada, mas também não estava de acordo com sua sugestão. Então permanecia quieto com um olhar afiado.
— Vou dormir ao lado da sua cama. Você não terá o incômodo de me ver. — Ele rolou para o lado, preguiçosamente. — Você escolheu dormir comigo durante anos, suporte as consequências de um homem que perdeu o hábito de dormir sozinho. Será por pouco tempo. — Dom olhou para mim, eu pretendia agir de maneira impassível. Ao menos em frente a ele. — Não durmo há várias noites, mesmo com álcool no meu corpo não consigo dormir. Tudo por sua causa, por que tínhamos que dividir o quarto? — Ele franziu as sobrancelhas e ficou quieto, então puxou o cobertor sobre si. Seus cílios longos e espessos piscando vez ou outra.
— Você não precisa dizer mais nada, já entendi o seu ponto — o interrompi, expressei insatisfação. — Nós concordamos em dividir o quarto no começo, lembra? Não venha com reclamações agora. — O ambiente mórbido do quarto mudou um pouco, todavia, não era algo ruim.
Poucas vezes Dom pediu algo, podia contar a quantidade em apenas uma mão. Ele nunca gostou de pedir favores para alguém.
Desde jovem, Dominic não gostava de confiar seus desejos ou pedir ajuda a ninguém. Silencioso, mas racional, ele era alguém que consideraria as coisas cuidadosamente antes de chegar à conclusão se deveria pedir ajuda ou não. Ademais, uma vez que ele fazia isso, raramente voltava a pedir favores. Além disso, no final das contas, as pessoas o ajudavam esperando algo em troca. Almejando se aproveitar dele, portanto, era natural que ele odiasse a ideia de pedir ajuda ou favores para alguém.
Ele virou-se para mim e parou por um momento, esperava para ver o que mais eu tinha a dizer. Seus olhos luzentes olhando nos meus, sem dizer nada. Ele parecia uma criança rica e mimada, e isso era surpreendentemente vindo dele.
— Faça como quiser. Apenas certifique-se de não me culpar depois. — Dom acenou com satisfação. Inesperadamente o homem deitado no meu tapete conseguia expressar alguma humanidade de vez em quando.
Dessa vez, a bebida alcoólica que Dom ingeriu deveria ser realmente forte ao ponto de fazê-lo me pedir um favor sem cabimento como esse.
Embora eu concordasse, ele permaneceu calado. Percebi que diante dele, meus novos hábitos corriam o risco de se extinguir a qualquer momento. Como um castelo de areia à beira mar. Culpa desses sentimentos que me tornam cativo.
— Amanhã quando acordar não me culpe. Lembre-se disso! — protestei, enquanto apagava as luzes com uma expressão de seriedade. — Boa… — calei-me.
Franzi as sobrancelhas e não deixei de me perguntar mentalmente porque Dominic estava fazendo isso, mas não conseguia encontrar resposta. A expressão facial dele permanecia uniforme; era muito difícil adivinhar seus pensamentos. Cansado, balancei minha cabeça, o melhor era não pensar muito nisso.
Quando voltei a deitar, olhei para o espaço ao lado da minha cama. Dom já dormia profundamente sobre o meu tapete, agarrado ao cobertor, com uma expressão de satisfação no rosto. Não conseguia entender o que havia de tão confortável naquele tapete para que ele insistisse em dormir ali.
Mas há uma coisa que devo admitir: Dominic ficava extremamente bonito enquanto dormia de olhos fechados e boca lacrada. Isso é raro. Estava diferente do habitual. Nessa atmosfera, deixei-me ser levado pelo sono.
Betagem por: Arabella [WD]