A Década Depois Da Primavera - Capítulo 07
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- Capítulo 07 - Álcool, quer dividir?
A luz do poste se apagou quando estava perto dos arbustos. O gato se assustou e saiu correndo.
No chão, quando caí, toquei um líquido desconhecido. Minhas mãos estavam excepcionalmente pegajosas. Esfreguei o meu tornozelo e verifiquei meu abdômen enquanto olhava para a coisa enorme onde tropecei, minhas sobrancelhas estavam franzidas. Parecia um tronco, mas era mais macio e maior do que um tronco. Não conseguia ver claramente com a escuridão ao meu redor. Levantei-me com dificuldade e peguei meu celular, liguei seu flash enquanto afastava as folhas que bloqueavam a luz para ter uma visão mais clara.
Quando vi, dei alguns passos para trás com o sobressalto repentino e imediato.
Era um corpo. Mais precisamente, era um homem com cabelos quase grisalhos.
As roupas do homem estavam amarrotadas e desengonçadas. Havia sangue por toda parte. O sangue era vermelho brilhante, com um cheiro metálico. Demorou alguns instantes para perceber que minha mão estava coberta de sangue. Meu tornozelo também estava coberto de sangue.
Sabia que precisava manter a calma, mas não sabia se o senhor ainda estava vivo. Disquei o número da polícia e ambulância. Depois de terminar a ligação, rapidamente recuei para a beira da estrada e me sentei perto de uma pedra. Após uns minutos pensando se ia ou não averiguar se o homem estava morto, mesmo hesitante, fui até o corpo. Dando pequenos passos até ele, sempre olhando ao redor, afinal, o sentimento de que tinha alguém me observando ainda me dava calafrios.
Antes de quebrar a curta distância entre mim e o homem inconsciente, avaliei rapidamente a situação para ver se podia me aproximar dele com segurança. Sem mais delongas, peguei um pedaço de galho e o cutuquei para ver se havia algum tipo de reação violenta, mas não houve.
Perguntei para ele se estava tudo bem, e como esperado, ele não reagiu aos meus estímulos externos, portanto o considerei inerte.
Não precisei verificar as suas vias respiratórias, notei que a pessoa estava respirando normalmente, seu peito estava subindo e descendo conforme ele respirava. Mas por via das dúvidas,verifiquei o seu pulso, levantei o queixo dele e senti o seu pomo de Adão. A partir daí, levei os meus dedos para o espaço onde estava suas veias no pescoço. E sim, havia pulso, consegui sentir um latejamento rítmico embaixo dos dedos.
Apesar de me sentir desconfortável com minha situação, constatei que ele estava vivo e voltei a me afastar. Quando soube disso me senti mais calmo, colocando meus pensamentos em ordem durante um tempo, até ouvir uma voz rouca me chamando.
— Ei, me dá uma ajudinha aqui. — O homem levantou sua cabeça e olhou para mim, me dando um susto que fez minha espinha gelar. — Acho que vou me afogar, tem muito glitter aqui. — Olhei para ele incrédulo, ele tentou se levantar, mas não conseguiu. Fui até ele e o ajudei a se sentar, ele olhou para trás de mim e apontou, sem falar nada. — Álcool, quer dividir? — Olhei para onde ele estava apontando, debaixo de algumas plantas havia uma garrafa de álcool. — Se você me dar, eu vou ser gentil e dividir com você — o senhor sorriu para mim. — Oh! Você também está todo sujo de glitter! — Olhei para mim, me dando conta do que ele estava falando. O glitter era sangue, eu e ele estávamos todos sujos de sangue.
— Não é glitter, é sangue. Tio, você está com um ferimento na cabeça — falei para ele, mas ele não pareceu surpreso e apenas passou sua mão no ferimento que não parou de sangrar.
— Não é sangue, é glitter! Ou será purpurina? — Ele olhou para sua mão, sua expressão deixava claro a sua incerteza. Durante um tempo, ele observou encabulado as palmas das suas mãos. Os olhos dele estavam inchados, com resquícios de lágrimas.
Levantei-me. Estava exausto com o que acabara de acontecer. O homem também se levantou cambaleando de um lado para o outro, até que caiu de novo.
Dessa vez ele engatinhou até que chegasse perto da garrafa, seu corpo não seguia mais suas ordens e então ele tateou até que conseguiu pegar a bendita da garrafa abrindo um sorriso alegre com sua vitória pouco glamourosa. O senhor bebeu um pouco de álcool e voltou a dormir, fazendo um alto barulho de baque ao cair no chão.
A polícia chegou primeiro. Alguns policiais uniformizados se aproximaram ao me ver com as mãos manchadas de sangue.
— Olá, sou Otávio, do departamento de Polícia. Posso perguntar se você foi a pessoa que relatou isso? — um policial perguntou ao que mostrava seu distintivo. Não disse nada, mas acenei concordando.
— Você pode nos contar sobre todo o processo que levou à sua ligação para nós? — O policial de boné tirou seu aparelho digital de notas, se preparando para digitar cada detalhe.
Ele olhou para o bêbado deitado do chão dormindo, abraçando sua garrafa. Com a chegada deles, vieram algumas pessoas curiosas, observando atentamente enquanto alguns tiravam fotos e outros fofocavam.
— Em que estado ele estava quando você o viu pela primeira vez? — o policial Otávio continuou.
— O rosto dele estava pálido. Suas roupas eram uma bagunça. Ambas as mãos dele estavam machucadas. Havia outros ferimentos menores no resto do corpo, embora eu não os tivesse visto corretamente. Ele só estava com um par de sapatos. Havia muito sangue no chão, principalmente sob a cabeça do bêbado. Parecia que o homem tinha chorado, ele despertou e logo desmaiou novamente quando ingeriu outro gole de álcool… acho que é tudo que lembro. — Tentei o meu melhor para me lembrar de tudo o que podia.
O policial pareceu inquieto depois de ouvir o que disse. Sei que a maioria das pessoas teria apenas ido embora se visse tal situação, ou no mínimo teria ligado para o socorro e imediatamente ido para casa. No entanto, fui capaz de descrever a cena com calma e detalhes. Suas suspeitas estavam crescendo contra mim, mesmo que não houvesse fundamento.
— Quem é você? — A expressão de Otávio tornou-se solene.
— Meu nome é Oscar — disse com tom seco.
— Qual é a sua relação com a vítima?
— Não tenho relação com a vítima. Eu estava passando e o descobri acidentalmente — respondi.
— Este é um canto tão escondido. Como você chegou aqui acidentalmente? — As perguntas do policial começaram a se intensificar.
— É minha primeira vez nesse bairro, não sou daqui. Vim apenas em um encontro com minha amiga na confeitaria aqui perto. Eu estava voltando para casa, mas me perdi tentando encontrar o ponto de ônibus — expliquei.
— Há alguém que possa provar isso?
— Sim, minha amiga. As câmeras da confeitaria, os clientes e os funcionários do lugar. — Olhei para o policial, que olhou para mim como se estivesse olhando para um criminoso. Eu não pude deixar de perguntar: — Policial, você está pensando que sou o criminoso que o machucou? Tente acordá-lo e pergunte para ele se ele sabe de algo, nunca o vi antes.
— Qualquer um pode ser suspeito. Buscamos sua cooperação — o policial Otávio respondeu com convicção e agressividade. Ele me fez rir com o desagrado da situação.
— Por favor, pense em duas questões antes de suspeitar de mim. Em primeiro lugar, as roupas do bêbado estavam abarrotadas como se o criminoso o tivesse segurado e havia muitos pequenos ferimentos em seu corpo. Olhe ali e ali, veja, tem câmeras públicas que gravaram o momento em que cheguei aqui e tropecei nele, quando ele já estava desmaiado na grama. Em segundo lugar, olhe para sua estatura física e olhe para mim, um homem magro e fraco. Como eu poderia ter força para atacá-lo? Veja a espessura desse homem, sua altura, sua largura e o compare a mim. Veja o tamanho do meu abdômen, isso também iria interferir na hora de subjugá-lo e meus planos iriam por água abaixo.
Otávio ficou mudo com as minhas palavras. Ele viu que eu não era uma pessoa comum. Meus pensamentos eram muito meticulosos e já havia notado muitos pequenos detalhes. Também fui capaz de apontar os problemas que muitos outros teriam ignorado. Ele fitou meu abdômen estudando-o, ainda sem dizer nada.
Não queria mais lidar com a polícia. Olhando para o relógio, percebi que já eram dez e meia. Dom talvez já teria terminado o trabalho e trazido para casa os meus pastéis, estou com fome e sem paciência.
— Como a pessoa que denunciou este caso, você terá que vir à delegacia para responder a mais perguntas — o policial Otávio disse, me fazendo revirar os olhos. Um pouco distante de nós, o bêbado despertou e interrompeu nosso diálogo.
— Não foi ele que me atacou, policial. Foi a fadinha! — O bêbado ensanguentado olhou entre mim e o policial, meio aéreo, enquanto ele era socorrido por outros policiais. E então o homem voltou a perder sua consciência.
No momento em que ambas as partes estavam em um impasse, Dom se aproximou de longe. Ele olhou de relance para mim enquanto se colocava entre mim e Otávio.
— Sinto muito. Ele é um pouco imprudente, ele não sabe o peso de suas palavras. Por favor, não se ofenda, policial. — Sua voz era gentil enquanto ele sorria.
— O quê você faz aqui? — Fiquei inquieto enquanto olhava para Dom. — Não esperava te encontrar novamente por aqui.
— Estava passando no momento quando te vi conversando com o policial, então decidi parar. Já estava indo para casa — explicou de costas para mim, olhando o policial.
— Você deveria ficar doente mais vezes — brinquei, observando os seus ombros largos e sentindo sua vigente fragrância cítrica de bergamota, bem refrescante e revigorante. O homem ficou em silêncio por alguns segundos e logo disse: “não confunda as coisas”, me fazendo dar de ombros indiferente. E então eu o cutuquei e disse: “Obrigado marido, eu também te amo”, ironizando sua resposta e provocando-o enquanto sorria inocentemente para ele.
O policial olhou para Dominic, que usava um terno de corte requintado. Dom era alto e bonito, com um corpo esguio. Seu leve sorriso o fez parecer indiferente. Era óbvio que ele era de elite. O policial sentiu uma pressão invisível quando Dom parou na frente dele, mesmo vestindo seu uniforme de policial.
— E você é…? — o policial perguntou.
— Sou Dominic, empresário e marido dele — respondeu no modo automático.
Seu nome era incrivelmente familiar para o policial, como se ele já tivesse ouvido o nome em algum lugar antes.
— Você é o CEO de quem o Velho Marcos está sempre falando? — Seus olhos brilharam de repente.
— Você conhece o Velho Marcos? — Dom pareceu ter intimidade com o dono do nome.
— O velho Marcos é meu mentor e amigo. Ele me orienta com meu trabalho na delegacia — Otávio sorriu e coçou a cabeça enquanto falava. — O velho Marcos mencionou que o CEO chamado Dom o ajudou a resolver um caso de fraude bastante complicado alguns anos atrás. Como resultado, o Velho Marcos sempre foi muito grato a você — O policial riu sem graça. — Sinto muito. Não sabia que você era amigo dele. Na verdade, não há muito mais a fazer aqui. Vocês podem ir para casa — disse, lembrando-se do que seu mentor havia lhe dito sobre Dom. Observei-o, meio desconfiado e pensando no quê que o dinheiro não faz, com meus braços cruzados.
— Obrigado. Se houver alguma coisa que surgir, sinta-se à vontade para entrar em contato comigo a qualquer momento. O velho Marcos tem meu número de telefone. Certamente faremos o nosso melhor para ajudar a polícia a resolver o caso — Dom o respondeu.
Dom despediu-se de Otávio antes de levar-me de volta para casa.
— Onde está meu salgado? — Assim que entramos na sala de estar e acendemos as luzes, comecei a perguntar impacientemente. — Estou com fome.
Dom parecia sem palavras com o fato de que ainda conseguia pensar em meus pastéis em um momento como este.
— Sim, comprei. — Ele balançou a cabeça.
Dom percebeu que as minhas mãos ainda tinham sangue seco quando ele se virou para me olhar. Ele franziu as sobrancelhas. Ele pegou as minhas mãos e as examinou cuidadosamente.
— Por que há sangue em suas mãos? — ele perguntou.
— Não é nada. Eu tropecei no pobre homem, o sangue pertence a ele. — Puxei minhas mãos depois de olhar para elas. Dom olhou para mim verificando meu corpo, apenas para descobrir que também havia alguns vestígios de sangue em meus tornozelos.
— E as suas pernas? — Ele arqueou as sobrancelhas, indiferente.
Somente quando Dom mencionou isso, foi que senti uma dor no tornozelo, acho que por causa da adrenalina não sentia dor alguma. Provavelmente arranhei o tornozelo quando tropecei e caí.
— O sangue na minha perna foi da queda. Vou ficar bem depois de limpá-lo — disse com desinteresse quanto a isso, já que não doía tanto assim. Sua atenção ainda estava nos meus arranhões, que diante do seu ponto de vista eram “ferimentos”, acho que esse homem nunca caiu de verdade para saber o real significado de ferimentos. Quando ouvi meu estômago roncar de tanta fome que eu estava, voltei a perguntar sobre minha comida. Por causa do incidente eu não pude voltar mais cedo para casa e comer. — Onde está minha comida? Estou com fome! — choraminguei, ele apenas olhou para mim antes de responder.
— Limpe-se primeiro. Eu vou te dar a comida assim que você limpar o ferimento em sua perna. — É, ele realmente não sabe o verdadeiro significado de ferimentos.
Involuntariamente caminhei até o banheiro para limpar meus arranhões e remover as manchas de sangue. Segui até o meu quarto para pegar o frasco de remédio, antes de voltar para a sala e sentar no sofá com as pernas apoiadas na mesinha de centro. Abri o frasco e comecei a aplicar o remédio na ferida todo desajeitado por conta das minhas costas que doía toda vez que apertava minha barriga, era um incômodo me curvar sobre ela.
— Você sabe como limpar uma ferida? — Dom me interrompeu, depois de ter ficado me observando.
— Sei, mas não estou conseguindo. — Olhei para ele com desdém, chateado por ele não perceber o óbvio.
— Onde estão os cotonetes? — Dom caminhou resignado até mim e pegou o frasco de remédio.
— Não sei. Não consegui encontrar nenhum no quarto — falei em um tom cético.
Dom só conseguiu encontrar uma bola de algodão em uma das gavetas da sala. Ele se agachou perto do sofá, segurando os meus pés sem dizer uma palavra. Ele derramou o remédio na bola de algodão com cuidado, antes de esfregar o remédio na minha ferida. Suas ações foram tão gentis ao ponto que foi impossível não sentir um pouco de medo, como se fosse a calmaria antes da tempestade.
Sua palma era áspera com calosidades. A leve coceira do aperto de Dom nos meus pés me deixou ligeiramente desconfortável, meus sentimentos estavam anormal. Quis retrair os meus pés nervosamente, apenas para Dom segurar minha perna com mais força,
— Pare de se mexer. Estou aplicando o remédio! — Dom reclamou, concentrado no que estava fazendo.
Meus olhos só conseguiam seguir cada movimento que Dom estava fazendo enquanto aplicava o remédio no meu arranhão.
Por que você não pode me amar como uma pessoa normal? Na mesma intensidade que eu?, não ousei lhe perguntar isso. Como se tivesse ouvido meus pensamentos, Dominic olhou para mim, me fazendo dar um sobressalto. Não sei desde quando, mas percebi que estava prendendo minha respiração. Nossos olhares se encontraram, ele parou o que estava fazendo.
Parecia que mais uma vez o tempo estava absorto ao silêncio da noite, que o tempo havia congelado.
Por um impulso, me abaixei o suficiente para encostar minha testa na sua. Não tenho ideia do porquê fiz isso, mas pude sentir sua respiração batendo contra o meu rosto, seu calor corporal se envolvendo ao meu e sua fragrância que fazia-me sentir a sensação de estar flutuando mesmo estando parado no lugar… Não fizemos nada, ele apenas congelou no lugar, surpreendido com minha atitude enquanto estávamos olhando um para o outro. Suas íris claras me analisavam, suas pupilas se dilatando conforme ele olhava para os meus olhos, seus cílios longos se mexeram quando ele piscou lentamente.
Dom finalmente soltou minha perna, erguendo suas mãos para tocar minhas bochechas, segurando o meu rosto.
A brisa fria da noite invadiu o apartamento, colidindo contra o calor que nossos corpos emitiam, agitando o cabelo bagunçado de Dominic.
— Não tenha- — Eu o interrompi, colocando meu dedo sobre seus lábios, revirando os olhos.
— Cala a boca, já sei o que vai falar. Você às vezes é repetitivo demais.
Ele ficou surpreso, contudo, disse algo que me deixou confuso.
— Até quando seus sentimentos vão buscar abrigo em mim? Não suporto mais isso, meu peito dói... — O rosto dele curvou-se sobre o meu em câmera lenta, como um sonho, vivido e lúcido, e então se intensificou quando percebi que seus lábios estavam entreabertos e se aproximando lentamente dos meus, o meu prazer se intensificou ao vê-lo umedecer os lábios com a ponta da língua em um convite silencioso para que unisse nossas bocas.
A pequena lacuna entre nós desapareceu quando senti seu hálito quente sob meus lábios e o invadi em um beijo profundo e delicado.
Mordisquei seu lábio inferior com deliberada ousadia, ouvindo um leve gemido de prazer do idiota, tornando sua sensação sensualmente dolorosa. Sua respiração chegava em meus lábios, beijando minha boca em um sopro quente.
Ele inclinou levemente sua cabeça, roçando seus lábios com mais intensidade nos meus, contornando minha boca com sua língua, enquanto ela se entrelaçava com gentileza na minha, meus olhos estavam abertos, guardando na memória seus gestos e sensações. Sentindo o sabor doce de seus lábios desenhados pela minha língua, bailando em sincronia com a sua.
Um beijo que traduziu sem palavras todo o sentimento de desejo, excitação, luxúria, amor e desespero! Um deleite de sensações e prazeres guardados onde apenas um beijo seria pouco para saciar nossos desejos secretos.
Cedendo a uma ternura que Dom tem evitado, sem nem se dar conta.
Um simples beijo cheio de promessas não cumpridas e de juras de eternidade. Cheio de fantasia, de sonhos e desejos. Como se estivesse sendo apenas mais um de vários, como um casal normal cheio de amor e paixão, intenso e real em um mundo de faz-de-conta.
Suas mãos deslizaram com gentileza do meu rosto até minha cintura, explorando cada centímetro meu. Não era luxúria ou caprichos que seus toques mostravam, era cuidado, carinho e saudades. Até que seus braços me entrelaçaram em um abraço quentinho, em um movimento delicado. O vento frio penetrou na minha pele, dando-me arrepios, causando calafrios onde o calor de Dom era ausente.
Meu estômago literalmente deu uma cambalhota quando senti a criança dentro de mim se mexendo. A bolha imaginária à nossa volta se estourou, me trazendo para a realidade. O silêncio que inundava o lugar não existia mais, o som de carros, as vozes e os ruídos banharam o cômodo.
Foi nesse momento que um sorriso travesso surgiu nos meus lábios.
No ápice do beijo, quando nossas línguas se entrelaçaram e ele estava lambendo meus dentes em êxtase, molhando minha boca em um prazer íntimo… Mordi sua língua com força e brutalidade! O seu lábio inferior não se safou, no meio do ato, meus dentes o cortaram como uma lâmina amolada.
Com um sobressalto seguido por resmungos, ele abriu seus olhos, soltando-se de mim e se afastando por puro reflexo. Pasmo com minha atitude rebelde, jamais imaginou que eu faria algo assim.
Seu lábio e sua língua estavam sangrando, ele levou suas mãos até a boca, sujando-as de sangue. Fiz uma expressão de horror, fingindo não ter feito de propósito.
— Desculpa, senti uma contração e por reflexo contrai a mandíbula! — Levantei-me e fui até ele, verificando-o. — Não precisa se preocupar, nenhum pedaço foi arrancando. Já já, vai estar parando de sangrar! — Ele não disse nada, apenas cuspiu o sangue no chão. Era óbvio sua desconfiança, e também não fiz a menor questão de esconder minha satisfação.
O que ele pensou? Que apenas por amá-lo eu iria fingir amnésia e esquecer suas ameaças de dias atrás? Ele estava enganado! Deveria ter envolvido somente a mim e não minha criança, não deixarei ninguém levá-la.
— Não minta, você fez isso de propósito — ele falou, mesmo com dificuldade.
— Talvez? Não sei. Mas sei que você gostou do beijo, admita. — Estava claro como a água, Dom não conseguia mais identificar os seus sentimentos. Confusos, era assim que eles estavam. — Onde estão os meus pastéis? — Mudei de assunto, olhando-o com um olhar cético.
— Os pastéis estavam um pouco frios, então eu os coloquei no micro-ondas para aquecê-los — Desconcertado, ele foi para o banheiro cuidar dos seus machucados.
Quando fui para a cozinha peguei o prato com os pastéis.
Acomodei-me na cadeira da mesa com satisfação e comecei a comê-los sem me importar com os modos, minha fome estava enorme para me preocupar com isso. Continuei enfiando mais comida na boca, mesmo quando minhas bochechas já estavam cheias, comendo como se fosse um pequeno hamster.
Dom não voltou mais para a sala e muito menos para a cozinha, pobrezinho. Ele tinha um semblante confuso, e apesar de achar o seu comportamento fofo, não me importei com a possibilidade de deixá-lo gago e continuei comendo.
Minha cabeça estava cheia de pensamentos, queria saber se esse beijo significou algo para ele, na sua atitude, nos seus gestos, estava explícito sua atração. Fechei meus olhos, suspirando pesado, as sensações dos seus toques e carícias insistiam em brincar comigo, recriando cada cena daquele momento!
É, sei que sou um péssimo caçador… quando saí para caçar, caí na armadilha do amor. Uma armadilha sagaz que não me deixa esquecê-lo. Que frustrante!
Betagem por: Arabella
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