A Década Depois Da Primavera - Capítulo 06
Já eram onze e meia da noite, uma noite de domingo tediosa e tranquila. Fazia dias desde o incidente na empresa com o ex-funcionário.
Tive que aceitar meu destino e não pensar em fugir. Afinal, todas as minhas economias foram gastas com o tratamento médico. Não quero o dinheiro de Dom, como já disse antes, eu queria ele! Mas desta vez as ameaças dele de tomar meu filho me deixaram magoado, ao ponto de tomar a decisão de preparar outro quarto para mim.
Coisa que já deveria ter feito muito antes se ele não tivesse me proibido de o fazer, ele sempre cria empecilhos para que eu não fosse dormir em outro quarto, mas desta vez decidi condecorar um quarto só meu, fazendo o que já deveria ter feito muito antes! Lamentavelmente, o quarto ainda não ficou pronto, mas logo estaria e Dom não percebeu nada, ele às vezes é desligado.
— Dom… — o chamei, com um tom entretido. — Você realmente me ama, não? Hoje você não deveria estar aqui, seu jantar de negócios era importante. Mas como você me ama muito, decidiu ficar resfriado apenas para passar a noite de domingo comigo, não foi? — brinquei, rindo um pouco da sua condição. Dom já estava deitado, seus remédios estavam começando a fazer efeito e o deixando meio sonolento. E eu estava sentado na cama segurando um tablet e assistindo The Life And Death, uma série sobrenatural.
— Pare de falar. Apague as luzes e vá dormir. — Dom já havia fechado os olhos, suas bochechas estavam vermelhas por causa da febre. — Deixe-me dormir, minha garganta está inflamada, minha cabeça dói e meu corpo também. — Ele expirou depois que falou.
— Você é o pior marido do século, você sabe não é? — o inferiorizei, caçoando dele, ao mesmo tempo que assistia minha série.
Dom franziu a testa e começou a puxar minha perna, a força que ele usou era como se ele estivesse arrancando a perna de uma vaca.
— Luzes, apague as luzes — balbuciou completamente grogue por consequência dos remédios. Gritei de propósito reclamando do seu puxão na minha perna e depois bati com o tablet nele. Ele pegou o tablet e olhou para mim. — Por que você está falando tão alto? Essas suas pernas tem a força para nocautear uma porta e você está fazendo uma cena apenas por um pequeno puxãozinho?
Não fiquei quieto, peguei o travesseiro que coloquei atrás da minha cabeça e cobri o seu rosto, o impedindo de olhar para mim. Depois de remover o travesseiro do seu rosto, ele me encarou sem dizer nada, depois estalou a língua com a dor extra além da sua enxaqueca, ouvindo minhas palavras.
— Cala a boca, estúpido — disse para ele, ignorando suas reclamações de dor e voltei a prestar atenção na minha série. Dom era indigno de receber amor, disso tenho certeza, esse bastardo.
Trinta minutos depois que o episódio da série chegou ao fim, me levantei e passei por cima do enorme obstáculo na cama para desligar as luzes. De alguma forma, quando voltei para a nossa cama, meu coração se acalmou lentamente.
Hoje estive meio apreensivo, mas depois que consegui concluir o pedido de afastamento para Demétrio, senti que não adiantava pensar nesses problemas do passado agora. Tudo foi resolvido gradativamente da melhor maneira possível. O que eu queria agora era aproveitar cada momento presente.
No dia seguinte, acordei cedo para acordar Dom, como de costume. Mas ele já estava vestido com um terno primorosamente arrumado quando abri meus olhos. Ele estava de pé ao lado da escrivaninha, procurando sua carteira que havia deixado lá na noite anterior.
— Apresse-se e saia da cama — O homem disse virado de costas para mim. — O café da manhã já está pronto, comprei para você. Está na mesa de jantar na cozinha.
— Você já está melhor? Que horas são agora? — Estava com tanto sono que mal conseguia abrir os olhos, mas fiquei surpreso com a atitude de Dom, era eu quem sempre acordava ele e fazia o café da manhã.
— Já são oito da manhã e sim, já me sinto melhor. Você vai trabalhar hoje? — Dom perguntou, segurando sua carteira e olhando para mim. A sonolência me deixou de uma vez quando ouvi que horas era, pulei da cama como um gato em dia de banho.
— Não vou trabalhar, mas tenho que encontrar uma pessoa. Já estou atrasado! O que eu faço? — fiz uma pergunta retórica, não esperava que Dom me respondesse.
— Eu vou te levar lá assim que terminar de organizar meus papéis. — Dom estava tentando ajeitar sua gravata, me levantei e fui até ele o ajudar, mesmo ele me dando um olhar estranho no meio do processo, depois ele colocou seu relógio.
Já que Dominic me levaria (pessoalmente eu achei estranho) o que definitivamente seria muito mais rápido do que pegar o transporte público, pensei em ficar mais alguns minutos na cama. Com esse pensamento, me deitei na cama, pronto para dormir mais alguns minutos. Um dos sintomas da gravidez era a sonolência, disso eu tinha certeza. Às vezes me sentia subitamente exausto, depois energético e no final eu acabava dormindo.
Tendo notado que eu não tinha nenhuma intenção de sair da cama, Dominic largou sua maleta de escritório e se aproximou de mim.
— Levante-se agora! Não me culpe se você chegar atrasado — balbuciou levantando o cobertor, me fitando.
Fiz beicinho e resmunguei enquanto coçava minha virilha. Tinha dormido muito bem graças aos vários travesseiros confortáveis que coloquei ao meu redor, por causa do desconforto que minha barriga causava às vezes. Meu cabelo estava tão bagunçado que era comparável ao feno. Apertei os olhos enquanto me forçava a levantar e ir tomar banho.
Dom olhou para mim. O ângulo dele por coincidência o deixou ter um leve vislumbre de minha pele exposta pela abertura sob o meu pijama enorme, esses dias estou vestindo mais roupas grandes de tecido de algodão para dormir. Ele virou a cabeça imediatamente e agiu como se nada tivesse acontecido, mas eu vi sua reação de virgem. Ele evitou olhar para mim.
Uma vez Zhang comentou que talvez Dom ainda gostasse de mim, olhando para essa situação estou começando a cogitar sobre suas palavras, mesmo que ainda seja difícil de acreditar.
Ainda me sentia incrivelmente sonolento enquanto escovava os dentes lentamente no banheiro. Mesmo depois de lavar o rosto desordenadamente, meus olhos ainda estavam semicerrados de sono. Meu pijama estava uma bagunça. Um dos botões da minha camisa se abriu, revelando a pele branca e rosada ao redor do meu mamilo. Dom se virou para olhar para mim sem querer no exato momento, apenas para ver meu mamilo exposto mais uma vez.
— Apresse-se e vá trocar de roupa! — Ele franziu as sobrancelhas e exclamou. Sério, o que há com ele hoje? Quem deveria ter mudanças súbitas de humor sou eu, não ele!
Acenei com a cabeça concordando, mostrando que sim, eu o ouvi. Minhas ações, no entanto, ainda eram lentas enquanto passava ao lado de Dom para pegar minhas roupas.
Ainda estava um pouco sonolento quando entrei no carro. Por sorte levei um travesseiro para o carro, e algumas pastas que continham os materiais de que precisava para o plano de decoração do apartamento. Encostei-me na janela do carro com a cabeça ligeiramente inclinada sobre meu travesseiro, observando as pessoas trafegando para lá e para cá.
Passou-se alguns segundos antes dele começar a inspirar ao redor, perguntando que cheiro era aquele, foi assim que me dei conta de que ele estava falando do meu novo perfume. Uma fragrância de sândalo, que decidi experimentar. Perguntei o que ele achou, mas ele não disse nada e permaneceu calado e em seguida voltou a quebrar o silêncio.
— Não faça nada imprudente que vá prejudicar a criança, e não deixe baba no estofado do meu carro — Dom resmungou, olhando para mim de relance do banco do motorista ao lado do meu. Estranhei a sua súbita preocupação com o bebê.
— Entendido, senhor responsável! — Fiz sinal de aspas quando falei com ele, debochando do homem.
— Não vou poder te buscar, tenho assuntos para resolver na empresa e vou ficar ocupado. Você deveria ir para casa sozinho. — Dom olhava para a estrada à frente enquanto dirigia o carro. Ele falou como se fosse me buscar todos os dias, que irônico.
— Eu sei meu caminho de volta e estou acostumado a andar sozinho, senhor responsável. Você pode apenas se concentrar no seu trabalho, sei que você não faz muita questão em me buscar mesmo — cantarolei pensando nas palavras de Dom. Algo que não é novidade para mim, ele sempre está ocupado. E eu sempre fazia uso do ônibus para me locomover, desde que tive que vender meu carro para arcar com os gastos do meu tratamento, sem esquecer das minhas economias.
Fiquei animado de repente com a ideia repentina de fofocar sobre o meu outro eu que todos no departamento estão comentando, quis brincar um pouco com isso. Virei-me observando Dom, que estava imerso no trânsito.
— Ei, Sr. Responsável, ouvi dos seus funcionários que seu queridinho chamado Demétrio se afastou. É verdade? — disse, olhando para ele enquanto me divertia.
— Quem te disse isso?— Dom franziu as sobrancelhas.
— Por que você se importa com quem me contou? É verdade? Me conte, estou curioso. — insisti, fingindo seriedade. A expressão de Dominic não mudou muito, como se ele fosse falar sobre algo de pouca importância.
— Não há muito para dizer sobre ele. Ele cuidava de alguns negócios de uma forma organizada e bem ágil — ele comentou calmamente.
O que Dom não mencionou é que Demétrio seu crush (assim diz eu) tiveram uma pequena discussão por vídeo-chamada, devido à sua agenda lotada de trabalho e aos problemas da ideia de Demétrio ficar trabalhando à longa distância.
Já fazia um tempo desde que eles se comunicaram. Não apenas isso, ele havia se esquecido pouco a pouco de Demétrio por causa da sua agenda lotada de reuniões, viagens e jantares de negócios. Dom não concordou com o afastamento de seu funcionário, principalmente quando ele precisava e ansiava tanto pela presença dele, que no caso sou eu.
Quando o criei, foi por puro egoísmo e capricho. Desde o início sabia que não deveria seguir adiante com ele, no entanto, quis fazer isso sem me importar com as possíveis consequências.
Me habituei aos gostos e caprichos de Dom, apenas para satisfazê-lo, ao ponto de ter me tornado o seu braço direito na empresa, mesmo não conseguindo ficar tão próximo dele.
— Mas… vocês não se falavam, não importando o quão ocupado você estivesse? Eu não vi você se importar com mais ninguém no trabalho se não ele — brinquei com ele uma última vez, no fundo, fiquei feliz por ele ter negligenciado um pouco o meu personagem Demétrio.
— Este é um assunto pessoal. Não pergunte. Você só precisa se preocupar consigo mesmo. — O tom de Dominic era severo, a atmosfera no carro ficou gélida.
Congelei, não por medo, mas de surpresa.
Talvez por ter passado os últimos dias com um Dominic mais gentil, eu senti que a espessa camada de gelo que protegia Dom havia derretido um pouco. Pensei que talvez pudéssemos ter um relacionamento como amigos, assim seria capaz de dar à criança um lar mais normal e um pouco familiar. Porém, olhando para sua expressão agora, minha ideia esvaiu-se. Acho que ultrapassei os limites da nossa escassa aproximação.
— Eu entendi. Não vou perguntar mais — disse para ele com um tom neutro, olhando para o abundante movimento no trânsito.
Dom se arrependeu no momento em que falou. Ele sabia que seu tom tinha sido muito áspero. Ele estava acostumado a ser mais neutro e indiferente comigo do que rude e agressivo enquanto enfrentava os seus empresários adversários, sendo eles pessoas agressivas.
— Sinto muito… O que eu quis dizer é… que resolverei meus próprios problemas. — Ele tentou neutralizar seu tom de voz enquanto falava comigo.
— Eu sei — falei me sentindo entediado, na verdade, não me importei muito com suas palavras para não estragar meu humor.
Dom olhou para mim enquanto eu estava quieto. Ele não sabia como se explicar. Nada parecia suficiente. Era normal que eu mostrasse curiosidade, pois não conhecia muitas pessoas e ele era a pessoa mais próxima de mim. E agora, ele pensou ter me deixado infeliz por causa de seus problemas com Demétrio. Dom ia falar novamente, no entanto, eu o interrompi antes que ele pudesse falar.
— Você pode simplesmente me deixar aqui, já estou perto do meu ponto — disse com um tom cômico. — Aaai! — Senti uma alfinetada na nuca, fazendo meus pelos eriçarem, como se fosse um mau presságio.
Olhei ao redor, atônito, mas não vi nada de suspeito e então saí do veículo com minhas pastas. Não há razão para pensar demais, afinal, está tudo bem.
Dom olhou para mim pela janela, surpreendido com meu gesto. Já havíamos chegado à confeitaria sem ele se dar conta.
— Algum problema? Você ficou pálido de repente. — Fiquei em silêncio por um momento e então o respondi, dizendo que estava tudo bem. Tal como não era problema dele. — O que você quer comer? Vou comprar para você no meu caminho de volta para casa mais tarde — ele perguntou, paralisei abruptamente olhando para ele incrédulo. Mas não pude desperdiçar a oportunidade de comer algo de graça.
— Eu quero comer pasteizinhos de carne. Mas… por que você está fazendo isso? — Os meus olhos brilharam com a ideia da comida, mas não pude deixar de perguntar. Ele me olhou e apenas riu de mim, como se aquilo fosse normal.
— Tudo bem, vou trazer um pouco para você esta noite. Você não tem a obrigação de cuidar de mim, mas ainda o fez. Passei dias doente e você cuidou de mim, quando não tinha mais ninguém. Mas não significa que nosso relacionamento está mais próximo, estou apenas retribuindo sua gentileza. — Enquanto falava, ele não olhou nos meus olhos. Certo, o homem que conhecia já estava voltando de pouquinho a pouquinho. Não falei nada, apenas cantarolei concordando com ele.
Virei-me feliz ao entrar na pequena confeitaria, não pelas atitudes de Dom, mas sim pela ideia de saborear várias sobremesas. Tive vontade de rir ao subir os degraus, adorava doces. E no momento apenas eles eram capazes de apaziguar meu humor confuso. Bastou um bolo de morango para imediatamente me fazer feliz como uma criança com seu docinho.
À mulher na mesa ao lado ficou me fitando, o brilho no seu olhar era egocêntrico e arrogante. Alternando entre mim e meu abdômen, quando nossos olhos se encontraram, dei o dedo do meio para ela, de forma discreta, claro.
Permitindo apenas que ela percebesse meu gesto obsceno, e quando ela se deu conta do que eu estava fazendo, dei a ela um sorriso ousado. Fazendo-a se levantar furiosa e ir embora, cochichando ofensas.
Anne chegou um pouquinho atrasada na confeitaria, ela disse que foi o monstruoso trânsito da cidade que às dez da manhã já estava um caos. Pedimos várias sobremesas e salgadinhos para comer enquanto discutíamos sobre detalhes das cores, de alguns móveis e dos gastos para a decoração do apartamento.
— Como já definimos o estilo, temos que escolher uma peça chave em cada ambiente — Anne comentou. — É nela que você vai imprimir sua personalidade e características do seu estilo, um jeito de colocar um pouco da sua personalidade em cada cantinho e isso vai deixar o ambiente cheio de estilo e identidade, o que favorece o bem-estar e a sua felicidade! — A mulher estava feliz, parecia que ela estava redecorando o seu próprio apartamento, vi que não fiz a escolha errada. — Qual cores você quer?
Não a respondi logo de início, minha boca estava cheia de bolo, mastiguei com calma para poder respondê-la. Depois bebi um pouco de vitamina para ajudar a digerir mais rápido.
— Estava pensando em amarelo, os vários tons de amarelo que têm. Eu pessoalmente tenho preferência por cores claras, vivas e belas — expliquei.
— Atualmente, há muitos projetos decorativos com tons de amarelo. Essa cor conquistou relevância e está presente na montagem de salas, quartos, cozinhas e até banheiros — ela balbuciou enquanto bebia seu suco. — O amarelo é perfeito para iluminar o ambiente e dar um toque de vivacidade. Além disso, combina bem com cores mais neutras e pode se adaptar até a tons mais quentes. É uma boa ideia, também gostei!
— Mas eu não quero um amarelo “cheguei!”, eu quero uma cor mais aconchegante, e casual. Temos que entender o significado da cor, e analisar as combinações… vamos ver algumas fotos como exemplo, tudo bem? — Ela concordou, comendo alguns salgadinhos.
— Li que o amarelo combina com uma série de cores. Temos que ver quais combinações vão te agradar! Geralmente, fica perfeito com opções mais neutras, já que é essencialmente vivo e vibrante. — Neste ponto nós dois concordamos, e voltamos a comer a cada pausa que fizemos.
Anne e eu passamos o dia assim. Depois que nosso encontro terminou às oito e vinte da noite, eu e ela arrumamos nossas coisas. Eu estava pronto para ir para casa comer meus pasteizinhos que Dom disse que traria para mim, mas não estava muito confiante de que ele realmente faria isso. Ele não é muito confiável, disso eu sei. Apesar dele ser responsável para certos assuntos.
Já estava escuro lá fora. As luzes fracas da rua pareciam ter coberto o mundo como uma rede invisível. Eu não estava familiarizado com aquele bairro, mas disse para Anne que estava tudo bem em ir sozinho. Mesmo depois de sua insistência, eu a convenci de que estava tudo bem, mas… depois de andar sem nenhuma noção de direção, me deparei com uma rua urbana desconhecida. Vazia e sem ninguém por perto, não tinha carros ao redor e muito menos casas ou posto de gasolina.
Cocei meus cabelos castanhos, percebendo que estava cercado por árvores na beira da estrada. O exuberante volume de folhas das árvores cobriu cada raio de luz e alguns postes haviam se apagado, enquanto a escuridão me cercava. O ar estava completamente frio e o lugar estava silencioso, estava perto de um cruzamento, mas não tinha nenhum ponto de ônibus.
Era possível ouvir o rangido dos meus passos hesitantes sobre o asfalto e o barulho do vento colidindo contra as folhas, via as sombras escuras dos galhos se movimentando conforme o vento os conduzia. Sentir que o mundo estava estranhamente absorto ao silêncio enquanto ouvia o vento soprando as folhas.
Não gostei do ambiente, mas continuei seguindo em frente. Afinal, tinha que encontrar um ponto de ônibus logo.
Estava tudo muito quieto. Senti um calafrio de repente. Tratei de ir embora dali imediatamente, apenas para ouvir uma voz estridente ao fundo. Parecia que alguém estava pisando nas folhas, criando um som de esmagamento. Os passos estavam lentos e conforme acelerei os meus passos o barulho de passos que vinha detrás de mim fizeram o mesmo.
— Há alguém aí? — Parei e olhei em volta, me sentindo aturdido. Apesar disso, não houve resposta e não havia ninguém andando atrás de mim.
Ao longe, uma sombra deformada se fez visível entre as árvores, era grande e obscura, muito sinistra. Não tinha como ser um humano, era medonho demais.
Fantasmas são imaginários; algo em que os humanos acreditavam durante os tempos mais primitivos e supersticiosos… certo?
Foi definitivamente assustador ver tal figura naquele lugar extremamente silencioso e isolado. Os ruídos estavam se aproximando, as batidas do meu coração dispararam e era possível sentir a velocidade que ele estava usando para bombear o sangue pelas minhas veias, meu estômago estava agitado.
Decidi caminhar em direção para onde havia luz, quando tomei coragem e finalmente olhei para trás mais uma vez, me dei conta de que meu perseguidor era peludo e feroz, com três patas velhas e desgastadas. Isso me fez soltar todo o ar dos meus pulmões, suspirando exageradamente.
Era um pequeno felino de rua, um gato aleijado que estava ensanguentado e sua sombra havia diminuído. Ele me observava esperançoso. Passei um curto tempo olhando para ele e então olhei ao redor e para as vegetações enquanto tentava me acalmar.
Tomei a decisão de ir até ele naquela área cheia de árvores e bancos de concreto. Para dar-lhe alguma coisa, se é que havia restado algo dentro das minhas coisas.
O sangue no animal parecia fresco, porém, o animal não tinha vestígios de ter sido atropelado. O sangue não parecia ser dele. Isso me fez levantar as sobrancelhas franzindo minha testa quanto ao quê ou de quem pertencia o líquido vermelho.
No entanto, quando voltei a andar para ir até ele… foi apenas para tropeçar em algo e cair no chão.
Betagem por:Arabella