A Arte De Saber - Capítulo 01
9 meses atrás.
Era sábado de noite — por volta de 22:10 —, estava parcialmente frio, porém ele não sentia. Estava entre quatro paredes sem nenhuma janela. Apenas duas portas, para o banheiro e para a saída/entrada. Ele também não o sentia pelo calor que ali fazia. A respiração de ambos estava ofegante, eram dois corpos nus apenas se esfregando, tentando obter o máximo de prazer possível, para os dois ou para apenas um deles. Para ele era assim, um procurando por prazer e o outro apenas fazendo seu trabalho.
Aquele cliente estava demorando mais que os outros, os quais não fazia muito tempo que haviam sido atendidos.
Ele estava terminando com seu último cliente, seu terceiro naquele dia e, por causa de suas horas extras na semana passada, suas costas não estavam nada boas. Ele decidiu que alguém bruto pagaria mais — e pagou — porém não imaginaria o quanto forçaria suas costas pra coisas tão triviais como apenas sexo. Em boa parte do tempo elas latejavam, durante uma semana, sem parar ele tomava analgésicos. Cada um em seu tempo, mas mesmo assim a dor apenas desaparecia por poucas horas. Ele comprou remédios mais fortes, e que tinham efeito mais duradouro, e então as dores finalmente cessaram por mais de três horas. Às vezes ficava o dia inteiro sem sentir dor com apenas um analgésico.
— Ficou 500 Reais — Disse, sem rodeios.
O mesmo levantou da cama com um pouco de esforço, andando até o banheiro indo se limpar.
— Eu não vou te dar 500. O trato era 450 re~ — O cliente diz boquejando, dando bruscos passos para frente em sua direção e, antes que terminasse de falar, foi interrompido.
Fuyuki se virou novamente olhando para ele, lançando-lhe um olhar enfurecido de ódio.
Ele odiava esse tipo de cliente. Clientes que sempre se achavam na razão, mesmo estando errados, esses eram os mais chatos e mesquinhos, até quando Fuyuki estava sempre avisando no começo do trabalho — enquanto eles ainda negociavam o quanto ele cobraria—. Claro que tinham pessoas que pediam por tal serviço e pagavam mais. Tinham pessoas que queriam que suas fantasias sexuais fossem realizadas, uns gostavam de amarrar ele, alguns queriam apenas observá-lo, ou observar ele com outra pessoa, já outros amavam fazer ele de cachorro, de gatinho, ou qualquer outra fantasia que se passava na mente dos clientes.
— O trato era você usar camisinha, você usou? Não, e ainda gozou dentro. É difícil de limpar, sabia? Então deixe o dinheiro em cima da mesa e saia. Caso tenha menos que 500 será obrigado a pagar o dobro. Espero que esteja ciente sobre! — Disse com uma voz séria voltando a ficar de costas para ele e entrando no cômodo
Seus passos eram grandes e largos. Ele tentava se distanciar o mais rápido do indivíduo, o medo de ser oprimido lhe colocava contra a parede. Ao entrar no lavabo e fechar a porta, sentiu um leve alívio carregado de arrepios percorrer sua espinha dorsal. Uma sensação assustadora, que levava o sentimento de medo. O medo daquela paz acabar.
Sem passar muito tempo foi possível ouvir a porta abrir e fechar, um estrondo também é escutado. Seus movimentos eram instáveis e dolorosos. Cambaleando até o chuveiro, tonto e com dor no corpo.
A janela do banheiro aberta juntamente com o chuveiro, estando no mais quente, soltava uma fumaça que deixava o ar em um estado tíbio. Ele suspirava continuamente no banheiro. Já está debaixo da água, com suas mãos apoiadas na parede vivenciando, mais uma vez, a tristeza de mais um dia lhe possuir. Rasgando-o por dentro como se estivesse em uma mesa de cirurgia e sentisse os bisturís cortando-o. Cortando seus sentimentos, sua alma, sua pureza, sua vontade de continuar. Se sentia horrível por ainda estar se submetendo a tal situação.
Sente a água quente alcançar sua cabeça e percorrer calmamente seu corpo, dando uma sensação calma e melancólica, na qual, as lágrimas pediam para sair. O cansaço já havia chegado — no seu caso, ele nem tinha ido embora —, e ele só queria deitar em sua cama, e não sair nunca mais dela, abraçar seu travesseiro e dormir confortavelmente e sem preocupações, ou deveres pendentes.
Sem um por que começou a pensar em sua infância, ainda claramente vivida em sua cabeça. Lembrar daquilo o fazia estremecer. E, às vezes, o medo tomava conta de si. O tormento de lembrar de todas as coisas ocorridas, fez seu coração apertar novamente. Tentou direcionar todos os seus pensamentos para sua única motivação, na qual o ajudava diariamente a continuar naquele emprego, naquela faculdade, naquela cidade, ou, até mesmo, naquela vida. Sua saúde mental não era das melhores, mas também não era extremamente ruim. Até mesmo os psicólogos precisam de uma consulta, ele queria ser um então precisaria se esforçar ao máximo e se sobressair.
Fuyuki sai do banheiro já trocado, com a mesma roupa que chegou. Ficou minutos olhando no espelho. Olhando seu corpo refletido. Olhando suas cicatrizes. Olhando seus traços. Olhando cada parte do seu corpo. Refletia sobre tantas coisas, nas quais não lhe importavam tanto.
A roupa dele era bem discreta, ou era o que ele achava. Uma blusa preta e uma calça preta. As roupas não chamariam, mas talvez seu cabelo tingido de um grisalho rosa como as flores da primavera, provavelmente chamaria. Com uma toalha de rosto esfregava seu cabelo, secando-o. Ali, naquele quarto, não havia janelas, mas mesmo assim ele podia sentir o frio tocar sua pele e fazer estremecer. Talvez seria pela janela do banheiro, ainda aberta, e o chuveiro fechado. Mesmo sendo uma janela pequena, o frio poderia passar por ela como uma flecha em uma velocidade na qual era possível escutar seu som ao acertar o alvo. O vento que passava pela janela deixava tudo mais gélido a cada momento. Mas aquela sensação de se sentir vivo era deveras gratificante para si, que por muito tempo se sentiu morto.
Seu corpo doía. Em momentos como esse ele tenta relaxar o máximo possível alongando seu corpo. Tentando se sentir melhor, tanto fisicamente quanto mentalmente. Tentando se sentir melhor com seu corpo. O que, para ele, foi difícil obter durante muito tempo da sua vida.
Ele escuta alguém bater na porta agressivamente. Foi até a porta estalando seus dedos, e esticando-os. Logo ao abrir sente uma mão segurar seu braço e te puxar para fora do quarto. A pessoa estava apertando seu braço tão forte que ele sentia o medo de ser quebrado com um movimento falho.
— O Diretor Kim Jae-Yun quer te ver agora! — Falou, lançando um olhar fuzilante enquanto continuava a puxar seu braço, afrouxando mais com dó de quebrá-lo.
Podia-se dizer que Fuyuki não era forte se você olhar somente a aparência. Seus braços não eram tão musculosos e não tinha muitos bíceps e era magro. O segurança conseguiu envolver sua mão em volta do seu braço com apenas uma mão. Era de se esperar de um homem de quase dois metros de altura, e que, provavelmente, praticava bastantes exercícios.
— Não tenho tempo para falar com ele agora. Diga que eu venho amanhã para podermos conversar formalmente. — Retrucou seu olhar. Ele puxou novamente seu braço para si, vendo que, em uma certa parte, ele estaria quase ficando roxo. — Amanhã será meu dia de folga, então tomara que seja algo realmente importante. — Ele lançou seu olhar frio. O olhar de desprezo, na qual, amava fazer.
O empregado vai até o criado mudo pegando o dinheiro e a bolsa. Voltou a segurar o braço de Fuyuki apertando-o mais forte que antes, para que o menino não escapasse de suas mãos novamente. Com um pouco de dificuldade, pela dor nas costas, sobe as escadas e assim que chega a sala o empregado abre a porta e o joga para dentro, fechando a porta com cuidado e sem agressividade — poderia se dizer que estaria com medo de perder seu emprego —.
Jae se aproxima do garoto que ainda estava no chão. Estendeu sua mão para ajudá-lo, como um ato de bondade ou empatia pelo mesmo. Mas foi um ato fingido e que acabou sendo falho no fim. Acabou sendo totalmente ignorado. Fuyuki levanta sozinho sem precisar da ajuda do mesmo, mas sentindo a dor em suas costas pulsar cada vez mais.
— Por que seus empregados sempre me tratam assim? Eu raramente não sou tratado como cachorro!! — Fala reclamando como de costume, e aumentando parcialmente seu argumento. — no caso, até um cachorro é tratado melhor do que eu.
— Você entende que o cachorro é tratado melhor porque é obediente, fofo entre outros… Mas você é apenas… Você… — Diz sem muita empolgação ao falar do mesmo, menosprezando-o. — Vou mandar eles serem mais gentis com você, tudo bem amorzinho? — ele abre um sorriso em seu rosto — Se machucou?
Fuyuki, que estava virado de costas para a porta, começa a andar lentamente para trás ao ver o diretor se aproximar, dando pequenos passos em sua direção. Sentiu seu coração acelerar com medo do que aconteceria, por algum motivo ele estava com medo do que aquele homem faria a seguir. Já encostado na porta, não tendo mais como andar para trás, o diretor se aproxima o mais perto possível dele levantando sua cabeça, ao ver que o mesmo abaixou ela fechando seus olhos.
— Calma, eu não vou fazer nada… Por que está com tanto medo? — Fala perto do ouvido de Fuyuki, sussurrando para ele.
— Dá licença da minha frente? — Diz empurrando para trás levemente com sua mão o cara a sua frente.
— Ok, Ok.— Diz se afastando e compreendendo o por que do mesmo querer aquilo. Ele havia se aproximado sem mais nem menos, sussurrando coisas em seu ouvido. Ele estava praticamente intimidando-o, invadindo seu espaço pessoal. — Tem uma mesa à frente esperando por você e por mim. — Ele dá alguns passos para o lado apresentando a mesa juntamente a um sorriso estampado em seu rosto.
— Você fumou…? Está passando mal? — Olhou pra ele com um semblante desconfiado.
— Você sabe que eu não fumo! — Fala se mostrando sério, já não estando mais com a expressão provocativa de antes. — E você, por acaso, está se preocupando comigo? — Da um sorriso ladino tirando proveito de tal situação.
Como sempre, para sair de uma conversa na qual deixava o ar pesado, ele sorria passando cantadas. Isso apenas com pessoas que, de algum jeito, seriam submissas a ele.
Jae puxa uma cadeira fazendo um pouco de barulho, anunciando que era pra se sentar ali.
Mesmo estando desconfiado senta, sentindo um alívio. Sua coluna não colabora nos últimos dias por ter feito dois dias extras na boate para poder pagar a mensalidade da casa e da faculdade, comprar os livros da faculdade e diversas outras coisas necessárias para seu dia a dia, ou para seus estudos. Esses dois dias extras acabaram com sua coluna. Jae puxa a cadeira e estava a se sentar à frente de Fuyuki dando um sorrisinho sarcástico, como se ele tivesse ganhado algo por mandar Fuyuki se sentar. Sem muita demora um garçom traz uma bandeja com comidas, e outro logo atrás traz um champanhe da marca: Moët & Chandon.
— O que você tem feito? Além de trabalhar aqui, claro. — Diz Jae com uma voz firme, pegando um garfo junto a uma faca e cortando a carne em seu prato, ainda olhando para o garoto.
— Estudando… — Fala fazendo o mesmo que o outro, tentando manter aquele jantar no estado profissional.
— Sério?! — Ele disse estando bastante surpreso. — Sobre o que você estuda?
— Psicologia… — Desviou seu olhar e voltou a cortar a carne, saboreando-a, quase não escutando o que o outro tem a dizer.
As respostas dele eram curtas e discretas, ele pensava que Jae-Yun não precisava saber sobre sua vida particular. Ele apenas trabalhava ali, não precisava contar sobre sua vida pessoal, como seus afazeres ou sobre sua faculdade. Fuyuki tinha mais que um relacionamento entre patrão e empregado com ele, porém não era algo a se levar em consideração. Jae algumas vezes era um de seus clientes, e às vezes não. Quando faziam era por vontade própria, ou serviço. Por prazer ou dinheiro. Mas sentia que aquilo não duraria, era apenas uma brincadeira para ele. Resistia a qualquer um que quisesse saber mais sobre sí, ele dava restrições e afastava as pessoas. Pra ele cautela nunca era demais. Ele seguia o ditado “melhor prevenir do que remediar”. Usava isso como desculpa para não se aproximar das pessoas.
— Nunca achei que você gostas~ — É interrompido mesmo antes de terminar sua frase.
Enquanto Jae tentava puxar assunto com Fuyuki, o garoto não pensava de tal modo. Só queria sair dali logo, aquele definitivamente não era o seu lugar preferido. Ele se sentia desconfortável com tal assunto e atrevimento de Jae, algo que não era de se surpreender vindo da parte dele. Lhe contar sobre sua vida particular o deixava vulnerável de diversas maneiras, pelo menos era isso que Fuyuki pensava.
— O que você quer? Qual é o seu objetivo fazendo tudo isso? Pagando vinhos e jantares caros para um mero empregado. — Diz já estando desconfortável o suficiente para se levantar e ir embora sem dar explicações, e provavelmente perder seu emprego por isso.
— Como assim “mero empregado” já transamos diversas vezes, e não venha dizer que sempre foram por dinheiro, às vezes o dinheiro nem estava envolvido. Só quero saber mais sobre você. — Se aproxima da mesa ao falar, dando um sorriso ladino. Bem típico dele. — Mas por que você gosta de psicologia? — Volta a tocar no assunto.
Fuyuki ao ver Jae piscar duas vezes enquanto falava percebeu que ele estava mentindo. O normal de saber quando alguém estava mentindo é por suas expressões faciais e falas, Fuyuki aprendeu isso quando ainda estava na escola. E diversas vezes usou isso para saber quando seus pais mentiam para ele, dizendo coisas como “eu voltarei logo” “Se você fizer suas lições te darei uma recompensa” coisas que ouvia quando era criança. Inclusive a mania de Jae-Yun era seu duplo piscar ao mentir.
— O que você realmente quer?! — Fuyuki larga os talheres e apoia seus cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos e olhando fixamente para ele.
— Vou ter que te contar uma hora ou outra mesmo… — Diz pegando a taça e tomando um gole do champanhe. — Porém você não poderá recusar.
— Bom, pode falar mas a decisão de aceitar ou não cabe a mim e não a você. — Diz expondo seus direitos — Meu amor. — Se Jae achava que Fuyuki não sabia jogar como ele, poderás dizer que ele se enganou. Com o passado que tinha ele, melhor que qualquer outra pessoa, sabia jogar ao mesmo nível que a pessoa ou até melhor, dependendo do caso.
— Durma comig- — Diz sem muita demora, mas, ainda sim, é interrompido.
— É sério? Você fez tudo isso pra pedir algo que fazemos quase toda semana? — Fuyuki, querendo ir embora o mais rápido possível, começa a desabotoar sua blusa.
— Eu ainda não terminei, então PARA de me interromper. — Deu ênfase na palavra, e logo após falar suspirou levemente e abaixou a cabeça. — Durma comigo e não vá embora. Eu não quero transar. Eu quero ficar com você, conversando, te abraçando, Te sentir ao meu lado. — Ele volta a subir sua cabeça. — Você aceita? — Jae Yun pega na mão de Fuyuki, lhe fazendo parar de tirar sua roupa.
— Como se fossemos um casalzinho? Não valeu. — Diz não demonstrando o mínimo de entusiasmo na proposta que lhe foi dada. — Você já me tomou tempo demais fazendo seu showzinho de mentiras. Eu estou vendo você piscar seu imbecil. — Pega suas coisas e levanta, arrastando a cadeira bruscamente e bufando.
— Eu te pago! — Segura o pulso de Fuyuki, apertando-o levemente.
— Ok… Você acha que eu vou ficar só porque você vai me pagar? Vou — Diz sentando novamente.
Podemos levar em consideração o ditado “Dinheiro na mão, calcinha no chão”. Mesmo que Fuyuki não usasse tal roupa íntima, essa frase se adequa a ele. Mas apenas se a quantia fosse de seu interesse, ou o trabalho.
— Obrigado. Então eu vou tomar banho. — Ele se levanta dando um beijo suave na bochecha de Fuyuki e se dirige ao banheiro.
Fica surpreso com a ação do mesmo, aquilo não era do seu feitio.
— Olha que fofo. Eu até acharia que você estivesse mudando. — Da um riso sarcástico.
— Ainda sou o mesmo. — Diz como se aquilo ofendesse seu ego, e ofende. — Aliás, amanhã tenho uma pessoa pra te apresentar. Você será meu presente para ele, o brinquedinho sexual dele, ou algo do tipo, por uma noite. — Diz Jae-Yun parando na porta do banheiro.
Publicado por:
- Logan
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